sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Todos de olho nos países árabes

Hoje alguns alunos da 2a. série vieram conversar após a aula. Na aula começamos a abordar as relações de trabalho, escravidão e trabalho assalariado, de modo que achei curioso quando soube que o interesse era sobre as agitações do Egito. Tema atualíssimo e de grande importância, pois a mudança política no mais populoso país árabe pode influenciar toda a região. O problema é que no calor dos acontecimentos acabamos nos confundido com tantos nomes, ideias e perspectivas. Qual o motivo dos protestos e o que querem mudar são apenas duas entre tantas outras perguntas possíveis.
Não pretendo responder a tudo por aqui, mas oferecer um guia de leituras para facilitar. Se houver alguma outra questão podemos discutir através dos comentários.

Hoje li na Folha de S. Paulo (só para assinantes) uma entrevista muito interessante com Walid Kazziha, professor da Universidade Americana do Cairo e especialista em Oriente Médio. Segue:

Folha - Como um protesto espontâneo conseguiu em poucos dias o que anos de oposição formal no Egito não alcançaram?

Walid Kazziha - Não é que um bando de pessoas decidiu de repente protestar numa praça do Cairo. Há muito tempo jovens têm trocado ideias na internet. Inspirados na queda do regime tunisiano, eles marcaram o protesto do último dia 25 para demonstrar a insatisfação de várias partes da sociedade egípcia contra o regime.
Nem a Irmandade Muçulmana nem outros partidos de oposição tiveram parte nisso. Este é um movimento sem liderança, formado por jovens de classe média, que domina a internet e que tem objetivos sociais, econômicos e políticos muito claros. Quer mais igualdade e democracia.

A desigualdade existe há muito tempo, assim como a falta de liberdade. Porque só agora o movimento surgiu?
A internet foi crucial, pois permitiu uma comunicação rápida e ampla e deu a abertura para o mundo exterior.

Mubarak já disse que não concorrerá a mais um mandato, mas isso não terminou os protestos. Qual a saída?
Quando Mubarak fez o discurso, muitos simpatizaram com ele, até entre os manifestantes. Mas a violência de anteontem acabou fortalecendo o movimento. Agora há basicamente dois caminhos. Ele poderá sucumbir à pressão e sair, abrindo caminho para que o vice conduza o país a um novo regime, mais liberal. O outro caminho é que o Exército restabeleça uma ditadura militar. O que parece claro é que os protestos não terminarão enquanto Mubarak estiver no poder.


Para que lado o Exército tende a caminhar?
Até agora o Exército manteve uma posição neutra. Manteve-se leal a Mubarak, mas não agiu para reprimir os oponentes do governo. Se o atual impasse permanecer, o Exército terá de escolher [um lado].


A alternativa a Mubarak é uma teocracia islâmica, como teme-se no Ocidente?
Havia a mesma expectativa na Tunísia e ela não se materializou. Aqui temos uma situação semelhante. A Irmandade Muçulmana é um partido político organizado, mas com influência limitada.

Os EUA de Bush fizeram uma tímida tentativa de promover a democracia na região. Agora Obama defende a saída de Mubarak. Isso é positivo?
É pouco e tarde demais. Se os protestos mostraram algo é que a democratização não ocorre de fora para dentro, mas é um processo interno.

O sr. crê que o Egito criará um efeito dominó na região?
Se esse movimento resultar num Egito mais liberal, terá um enorme impacto regional. Afetará o conflito árabe-israelense, e as outras sociedades árabes serão inspiradas. Um efeito dominó é perfeitamente possível.
Não são poucos os nomes de personagens e organizações que o Prof. Walid Kazziha cita. Neste caso eu sugiro que leiam os seguintes post de Luiz Raatz publicados no Radar Global, o blog do caderno internacional do O Estado de S. Paulo. São claro e objetivos, nada muito longo.

Os cenários para a crise no Egito
Os personagens da revolta no Egito

E o interessante post do mesmo jornalista comparando o Egito atual com o Irã de 1979:

O Cairo de 2011 e a Teerã de 1979

Se você preferir algo mais completo é possível ler o conjunto de notícias publicadas pela Folha de S. Paulo nos últimos dias e reunidas no especial A Revolta Árabe.
 
Mas (tem sempre um mas...), você pode ser resistente a ler tanta coisa. Ok, é sua opção, mas não opte por ficar sem informação. Há uma interessante entrevista concedida pelo correspondente do Estadão nos EUA, Gustavo Chacra. Clique AQUI.
Ou assista aos vídeos do G1, AQUI

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