quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Motivos, estopins e consequências

Caio, aluno da 3a. série, deixou nos comentários uma pergunta que respondi por lá mesmo. No entanto, a questão que ele levantou merece maior atenção. A pergunta era a respeito do início da I Guerra Mundial, se o motivo para a Grande Guerra era a morte do arquiduque (príncipe) austríaco Francisco Ferdinando.
Como diria o esquartejador, vamos por partes.
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, nenhum tema provocou tanta reflexão como a guerra de 1914 a 1918, sequer a Revolução Francesa consumiu tanto papel, tinta e horas de pesquisa. Portanto, é de se esperar que não haja apenas uma versão para a eclosão do conflito.
Ao contrário do que afirma o Tratado de Versalhes que determinou o fim da guerra, atualmente poucos (ou nenhum) historiadores defendem que a "culpa" toda foi do Império Alemão por desejar o conflito armado. Para muitos, incluindo o próprio Hobsbawm o enfrentamente não era desejado, ou ainda, sequer era imaginado nas dimensões em que acabou ocorrendo. Até então as guerras eram mais pontuais, envolvendo dois ou três países, e relativamente rápidas.

Mapa da Europa no início da Guerra

Quando a organização sérvia Mão Negra assassinou Francisco Ferdinando o governo austro-húngaro esperava que a Sérvia ou permitisse ações punitivas contra os assassinos ou, em caso de recusa, haveria uma guerra delimitada entre os dois Estados. O que ocorreu foi um efeito dominó devido a uma série de acordos diplomáticos secretos, interesses nacionais e ambições internacionais. O apoio da Rússia aos sérvios exigiu que o Império Austro-Húngaro acionasse sua aliança com os alemães. Estes ao avançarem sobre o que viria a ser a Polônia sabiam da aliança dos poloneses com França e Inglaterra, e a quadrilha toda estava armada.
Mas todos os Estados estavam sobre um grande barril de pólvora: Inglaterra, França e o Império Alemão disputavam espaço na economia mundial e é importante lembrarmos que os alemães saíram atrás na corrida por colônias na África e na Ásia. O Império Russo queria maior influência nos Bálcãns, região em que disputava com a Áustria-Hungría.
Por outro lado, há também as teses marxisitas-leninistas, iniciadas, como indica o nome, por Lenin, líder da Revolução Russa. Para ele (e muitos que o seguiram) a I Guerra Mundial era inevitável, pois representava uma consequência "natural" do Imperialismo, este visto como uma fase avançada do capitalismo. Ou seja, o desenvolvimento de um capitalismo cada vez mais agressivo e monopolista acabaria por gerar a necessidade de redesenhar o mapa da Europa tendo em vista as ambições nacionais.
Some a isso tudo as paixões e ódios nacionalistas, o incrível desenvolvimento tecnológico e bélico, e a incapacidade das elites políticas de anunciarem a paz para evitar maiores catástrofes. Resultado, uma guerra de destruição total altamente traumática para todo o continente e com consequências para todas as partes do globo de alguma forma em contato com os europeus.
Esclareceu ou ficou mais confuso?

2 comentários:

  1. Estaria certo então dizer que o assassinato de Francisco Ferdinando, somado ao imperialismo e ao capitalismo, além das alianças secretas, impulsionou a I Guerra Mundial ?
    Gabriela Scaranto.

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    Respostas
    1. Scaranto,
      Veja bem, você somou elementos importantes mas de pesos diferentes. A competição (econômica, política e militar) das potências imperialistas é um fator fundamental e profundo. O assassinato de Francisco Ferdinando, por sua vez, é um catalizador das tensões que já estavam no ar e que, se não fossem as alianças secretas, talvez tivesse virado apenas uma guerra entre Áustria-Hungria e Sérvia.
      Melhorou?

      Abraço

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