sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dando com uma mão e tirando com a outra?

Estou um pouco em dúvida com relação a algumas notícias que li sobre mudanças no vestibular da USP.
Primeiro eu li que o Conselho de Graduação aprovou o aumento de bonificação para os alunos da rede pública. A ideia é dimiduir a incrível diferença entre os inscritos e os aprovados no exame: 85% do pessoal que presta a prova vem do ensino público, mas apenas 25% é aprovado. O método encontrado foi bonificar a participação e o desempenho desses concorrentes de modo que os bons resultados ganhem pontos extras.
Mas depois desta notícia li que a Pró-Reitoria da USP defende uma série de mudanças que teriam como resultado aumentar a nota de corte de praticamente todos os cursos. Em outras palavras, ficaria muito mais difícil passar no vestibular.
Essa soma não dá zero?? Afinal, parece-me que com uma mão a USP pretende dar pontos e com a outra tirar os mesmo pontos exigindo uma nota de corte ainda maior.
O triste disso tudo é que só se discute a mudança da nota de corte, mas não a mudança do tipo de prova. Apesar das alterações recentes ainda seguimos modelos de até 20 anos atrás e programas tão velhos quanto a universidade. No caso de história especificamente, a FUVEST só sabe incluir novos conteúdos, porém muda a forma de avaliar bem lentamente, a passos de formiga (e sem vontade, como diria a música).

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Bullying News II

Agora virou bagunça! Antes nada era bullying e tínhamos um problema. Agora tudo é bullying e temos um problema.
Vejam o caso que seria cômico se não fosse trágico, ridículo, constrangedor e/ou ofensivo.
Na segunda-feira, dia 25 de abril, o senador pelo Paraná (ex-governador e famoso por sua truculência) Roberto Requião, arrancou o gravador das mãos de um repórter, irritado com a pergunta que lhe fora feita. O Sindicato dos Jornalistas imediatamente se manifestou, afinal o "nobre" parlamentar havia impedido o trabalho de um profissional e de forma agressiva.
Requião foi à tribuna do Senado no dia 26 para se justificar:
Segundo o senador, o repórter da Rádio Bandeirantes tentou lhe aplicar uma "armadilha" com "perguntas encomendadas", numa atitude de "bullying" que marca parte da imprensa brasileira.
"Temos que acabar com o abuso, o bullying que sofremos nas mãos de uma imprensa às vezes provocadora e muitas vezes irresponsável", disse.
Requião afirmou, sem citar nominalmente veículos de comunicação, que a imprensa se acostumou a "plantar ruídos que se afastam completamente da verdadeira natureza dos fatos". Sobre a retirada do gravador, disse que "há momentos em que a indignação é uma virtude".
 Só para que não fique dúvidas, cito trecho de uma matéria da Revista Nova Escola definindo o que NÃO é bullying
Discussões ou brigas pontuais não são bullying. Conflitos entre professor e aluno ou aluno e gestor também não são considerados bullying. Para que seja bullying, é necessário que a agressão ocorra entre pares (colegas de classe ou de trabalho, por exemplo). Todo bullying é uma agressão, mas nem toda a agressão é classificada como bullying.
O virtuoso Senador, em resumo, exagerou. Ou ele quis dizer que, mesmo tendo imunidade parlamentar, sendo julgado por foro privilegiado, recebendo um sem-número de regalias, ele é igual ao jornalista?!?! Não, acho que não...

E fica o aviso: a liberdade de expressão corre risco tanto à direita quanto à esquerda!

A matéria na íntegra sobre a desculpa esfarrapada de Requião AQUI.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Calendário dos vestibulares paulistas

As universidades do Estado de São Paulo acabaram de divulgar um calendário unificado para seus vestibulares. Portanto, está na hora de vocês se programarem para as inscrições e provas!
Este calendário foi pensado para não coincidir datas nem entre os vestibulares nem entre estes e o ENEM.
Fonte: Folha.com


UNESP
Inscrições: não divulgado
Provas: 6/11 (1ª fase) e 18/12 e 19/12 (2ª fase)
Resultado: 27/1
Matrícula: 8 e 9/2

Unicamp
Inscrições: 22/8 a 23/9
Provas: 13/11 (1ª fase) e 15/1 a 17/1 (2ª fase)
Resultado: 6/2
Matrícula: 9/2

PUC-SP
Inscrições: não divulgado
Prova: 20/11
Resultado: 15/12
Matrícula: 19/12 e 20/12

PUCCamp
Inscrições: não divulgado
Provas: 25/11 e 26/11
Resultado: 9/12
Matrícula: 13/12 a 15/12

FUVEST (USP e Santa Casa)
Inscrições: 26/8 a 9/9
Provas: 27/11 (1ª fase)* e 8/1 a 10/1 (2ª fase)
Resultado: 4/2 (1ª chamada)
Matrícula: 8/2 e 9/2
*As provas de habilidades específicas de música e artes visuais ocorrerão entre os dias 9/10 a 14/10

Inscrições: 1º/8 a 15/9
Provas: 13/12 a 16/12
Resultado: 30/12
Matrícula: não divulgado

Unifesp
Inscrições: não divulgado
Provas: 15/12 e 16/12 (1ª fase)*
Resultado: 30/1
Matrícula: 9/2
*Vestibular misto, que considera notas do Enem. Também são selecionados candidatos por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada)

Jogos, simulações e a realidade

Li na Folha de S. Paulo sobre um professor estadunidense que trabalha conceitos de geopolítica e resolução de problemas com alunos de 4a. série (creio que o equivalente ao nosso 5o. ano) utilizando um jogo chamado "Jogo da Paz Mundial". Trata-se de uma simulação desenvolvida pelo mesmo professor hácerca de 28 anos e, segundo a reportagem, muito premiado nos EUA.
Pelo que pude compreender da matéria e da entrevista com o professor, a atividade lembra bastante o SINU, a simulação da ONU desenvolvida pelo Colégio São Luiz que contou no ano passado com a participação de alguns alunos nossos. A maior diferença é justamente a idade: o SINU contou com alunos do Ensino Médio.

Veja o vídeo AQUI.

Após ver o vídeo estou simplesmente de boca aberta, a experiência é fantástica!!! Gostaria muito de saber mais sobre o "Jogo da Paz Mundial", mas infelizmente não sou um docente de Boston...


Ignore a manchete proto-poética da Folha e leia a entrevista:
Professor americano ensina a paz por meio da guerra

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Recomendação de leitura


Não se trata desta corrida espacial!!!
Para o pessoal que gosta de astronomia ou questões ligadas ao espaço, recomendo a leitura da edição n. 10 da revista Pré-Univesp.
Apesar da temática levar muito mais aos aspectos da física há um interessante (apesar de curto) artigo sobre a corrida espacial no contexto da Guerra Fria. Para quem está por dentro do tema fica valendo como revisão, aos que não sabem do que se trata a leitura é obrigatória.






Corrida Espacial e Guerra Fria
A competição entre os Estados Unidos e a então União Soviética pela conquista do espaço

Por Pedro Paulo A. Funari, professor do Departamento de História e coordenador do Centro de Estudos Avançados da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Eu vou!

Você assistiu o filme A Origem, do diretor C. Nolan e com Leonardo Di Caprio no papel principal? A imagem abaixo não se parece com alguma cena do filme?


A obra acima, "Relatividade", é do artista gráfico holandes Maurits Cornelis ESCHER (1898-1972) e foi uma inspiração declarada do diretor de A Origem, entre muitos outros. Escher é um mestre das perspectivas geométricas e dos paradoxos que geram ilusões intrigantes capazes de fixar o olhar do expectador por horas a fio na tentativa de encontrar todos os caminhos possíveis.
Você poderia viajar até a Holanda para ir ao Museu Escher, não é? Mas não é necessário. Depois de passar pelo Rio de Janeiro chegou ao Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo a exposição O Mundo Mágico de Escher.

Abaixo as informações que constam do site do CCBB.
O Mundo Mágico de Escher
A mostra reúne 94 obras, entre gravuras originais e desenhos, incluindo todos os trabalhos mais conhecidos do artista. Escher ficou mundialmente conhecido por representar construções impossíveis, preenchimento regular do plano e explorações do infinito. Escher foi um gênio da imaginação lúdica e um artesão habilidoso nas artes gráficas, mas a chave para muitos dos seus efeitos surpreendentes é a matemática, utilizada de uma forma intuitiva. A exposição mostra de forma analítica o desenvolvimento da obra gráfica do Escher em uma carreira de mais de 50 anos. Além disso, a exposição evidencia os efeitos de alguns fenômenos de espelhamento, perspectiva e matemática em diversas instalações interativas e lúdicas, além de um filme em 3D.
SERVIÇO
Data: 19 de abril a 17 de julho de 2011
Horário: Terça a domingo, das 09h às 20h
Local: Subsolo, térreo, 1º, 2º e 3º andares
Classificação indicativa: Livre
Entrada Franca
Visita mediada: das 9h às 19h



Recomendação: o CCBB fica na Rua Álvares Penteado, 112 (Centro), mas prefira ir de Metrô (estação Sé ou São Bento). Deixe o carro em casa e ande um pouco, é bom para você e é bom para a cidade.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Trabalho Bimestral - 3a. série EM

Para o pessoal da 3a. série o trabalho envolve um filme e alguns textos. O importante neste caso, como consta no roteiro que todos receberam, é estabelecer o diálogo entre o filme e a história do nazi-fascismo.
Como não quero que ninguém veja o filme errado, seguem os dados da produção alemã.

A Onda (Die Welle)
Diretor: Dennis Gansel
País de Origem: Alemanha
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 107 minutos
Ano de Lançamento: 2008
Sinopse:
Professor propõe um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo. Em pouco tempo, seus alunos começam a propagar o poder da unidade e ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério o professor decide interrompê-lo, mas aí já é tarde demais.
Trailer AQUI
 
 
Texto 1

Erich Fromm. O medo à liberdade. 14ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. P. 167-8

Em nosso modo de ver, nenhuma dessas explicações que sublinham fatores políticos e econômicos excluindo os psicológicos – ou vice-versa – está certa. O nazismo é um problema psicológico, mas os próprios fatores psicológicos têm de ser interpretados como sendo moldados por fatores sócio-econômicos; o nazismo é um problema econômico e político, porém o fascínio por ele exercido sobre um povo inteiro tem de ser interpretado em bases psicológicas. O que nos interessa neste capítulo é este aspecto psicológico do nazismo, sua base humana. Isso insinua dois problemas: a estrutura do caráter das pessoas a quem ele atraiu e as características psicológicas da ideologia que o transformou em instrumento tão eficaz com relação àquelas mesmas pessoas.
Ao considerar a base psicológica para o sucesso do nazismo esta diferenciação tem de ser feita desde logo: uma parte da população curvou-se ao regime nazista sem qualquer resistência vigorosa, mas também sem se converter em admiradora da ideologia nazista e de suas práticas políticas. Outra parte foi profundamente atraída pela nova ideologia e fanaticamente apegada aos que a proclamaram. O primeiro grupo consistia sobretudo da classe operária e da burguesia liberal e católica. A despeito de uma excelente organização, especialmente entre a classe operária, estes grupos, embora continuamente hostis ao nazismo desde seu início até 1933, não revelaram a resistência interior que seria de esperar como resultante de suas convicções políticas. Sua vontade para resistir fraquejou rapidamente e desde então causaram escassa dificuldade ao regime (exceto, está clara, a pequena minoria que lutou heroicamente contra o nazismo durante todos estes anos). Psicologicamente, esta presteza em submeter-se ao regime nazista parece dever-se, principalmente, a um estado de fadiga e resignação interior, que (...) é característico do indivíduo da era atual, mesmo em países democráticos. Na Alemanha, uma outra condição estava presente, no que toca à classe operária: a derrota sofrida por ela após as primeiras vitórias na Revolução de 1918 [o autor faz referência ao início da República de Weimar]. A classe operária entrara no período de pós-guerra com vivas esperanças de concretização do socialismo ou, no mínimo, de uma elevação acentuada de sua posição política, econômica e social; porém, sejam quais forem as razões, testemunhara uma série ininterrupta de insucessos, que acarretou seu desapontamento completo. No começo de 1930, os frutos de suas vitórias iniciais estavam quase completamente dissipados e o resultado foi um sentimento vívido de resignação, de descrença em seus chefes, de dúvida sobre o valor de qualquer espécie de organização e atividade política. Ainda continuavam membros dos respectivos partidos e, conscientemente, continuavam acreditando em suas doutrinas políticas; porém, bem no íntimo, muitos haviam desistido de qualquer esperança na eficácia da ação política.
Um incentivo adicional para a lealdade da maioria da população ao Governo nazista entrou em ação após a subida de Hitler ao poder. Para milhões de pessoas, o governo de Hitler passou a ser idêntico a "Alemanha". Uma vez de posse do poder, combatê-lo implicava desligar-se da comunidade dos alemães; quando os outros partidos políticos foram abolidos e o Partido Nazista tornou-se a Alemanha, a oposição a ele significava oposição à Alemanha. Parece que nada é mais difícil para o homem comum do que suportar o sentimento de não identificar-se com nenhum grupo maior. Por mais que um cidadão alemão possa opor-se aos princípios do nazismo, se tiver de optar entre ficar sozinho e sentir que pertence à Alemanha, como regra optará pela última solução. Pode ser observado, em muitos casos, que os alemães que não são nazistas mesmo assim defendem o nazismo contra críticas de parte de estrangeiros, porquanto acham que um ataque ao nazismo é um ataque à Alemanha. O medo ao isolamento e a relativa debilidade dos princípios morais auxiliam qualquer partido a conquistar a lealdade de grande setor da população, uma vez que este haja capturado o poder do Estado.
 
 
 
 
 
 
Prazo de entrega: 11 de maio
Será feita uma exibição para quem quiser (voluntariamente) assistir o filme na escola. Divulgarei o dia e o horário certinhos em sala de aula.

Trabalho Bimestral - 2a. série EM

Um lembrete nunca é demais, não é?
Semana passada entreguei em sala o roteiro de trabalho com todas as especificações. Não pretendo repetir tudo aqui, mas a proposta e os textos não faz mal.

Proposta:
Com base nos textos abaixo elabore um texto ou conjunto de textos discutindo as condições de trabalho no sistema capitalista.
É importante que seu trabalho contemple os seguintes pontos:
  • As condições de trabalho no século XIX, início da industrialização europeia.
  • As condições de trabalho no final do século XX e início do XXI.
  • Era esperado que houvesse alguma mudança ao longo dos séculos? Justifique.
Texto 1
“Nosso período regular de trabalho ia das cinco da manhã até as nove ou dez da noite. No sábado, até as onze, às vezes meia-noite, e então éramos mandados para a limpeza das máquinas no domingo. Não havia tempo disponível para o café da manhã e não se podia sentar para o jantar ou qualquer tempo disponível para o chá da tarde. Nós íamos para o moinho às cinco da manhã e trabalhávamos até as oito ou nove horas quando vinha o nosso café, que consistia de flocos de aveia com água, acompanhado de cebolas e bolo de aveia tudo amontoado em duas vasilhas. Acompanhando o bolo de aveia vinha o leite. Bebíamos e comíamos com as mãos e depois voltávamos para o trabalho sem que pudéssemos nem ao menos nos sentar para a refeição.”
(O jornal Ashton Chronicle entrevistou John Birley em maio de 1849)

Texto 2
“Pergunta: Os acidentes acontecem mais no período final do dia?
Resposta: Eu tenho conhecimento de mais acidentes no início do dia do que no final. Eu fui, inclusive, testemunha de um deles. Uma criança estava trabalhando a lã, isso é, preparando a lã para a máquina; mas a alça o prendeu, como ele foi pego de surpresa, acabou sendo levado para dentro do mecanismo; e nós encontramos um de seus membros em um lugar, outro acolá, e ele foi cortado em pedaços; todo o seu corpo foi mandado para dentro e foi totalmente mutilado.”
(John Allett começou a trabalhar numa fábrica de tecidos quando tinha apenas quatorze anos. Foi convocado a dar um depoimento ao parlamento britânico sobre as condições de trabalho nas fábricas aos 53 anos)

Texto 3
“Aproximadamente uma semana depois de me tornar um trabalhador no moinho, fui acometido por uma forte e pesada doença da qual poucos escapavam ao se tornarem trabalhadores nas fábricas. A causa dessa doença, que é conhecida pelo nome de “febre dos moinhos”, é a atmosfera contaminada produzida pela respiração de tantas pessoas num pequeno e reduzido espaço; também pela temperatura alta e os gases exalados pela graxa e óleo necessários para iluminar o ambiente.”
(Esse depoimento faz parte do livro “Capítulos da vida de um garoto nas fábricas de Dundee”, de Frank Forrest)

Texto 4"Oficina de costura necessita retistas (casados). Overlorquista. Urgente. 'Sábado não trabalha'. Bom Retiro". Os anúncios, a maior parte em espanhol, estão em um mural, à vista, aos domingos, das cerca de 3.000 pessoas que vão à praça Kantuta, no Pari, em São Paulo. À noite, mais ofertas de emprego com homens em Kombis circulam pelo local convidando para trabalho. Início imediato.
A inusitada fartura de vagas na cidade com quase 20% de taxa de desemprego esconde longas jornadas de trabalho (15,16 horas por dia), salários baixos --quando não deixam de ser pagos--, ameaças e condição precária de moradia e alimentação. É a versão urbana do trabalho análogo à escravidão – embora, em alguns casos menos rigorosos, o Ministério Público do Trabalho prefira qualificar de trabalho forçado.
O alvo dos anúncios é o imigrante ilegal latino, em sua maioria, boliviano --por isso a escolha da praça onde ocorre há dois anos uma feira de comida e artigos da Bolívia.
Nem a Polícia Federal nem o Ministério do Trabalho tem números sobre o problema, mas o que sai das oficinas de costura, espalhadas na região central (Pari, Bom Retiro, Canindé) e até em Guarulhos, movimenta parte do mercado de roupa na cidade. Lavanderias também integram o esquema. (...)
("Migrantes latinos são explorados em São Paulo". Folha de S. Paulo, 19.07.2004)

Texto 5
Imaginávamos que os progressos tecnológicos e a automação levariam a condições de trabalho menos penosas e mais saudáveis. Doce ilusão. É verdade que não se trabalha mais como na época de Zola [Émile Zola, escritor francês do séc. XIX]. Algumas tarefas duras e perigosas desapareceram, mas outras surgiram, colocando em risco a saúde dos trabalhadores. Na França do século XXI, duas pessoas morrem diariamente em conseqüência de acidentes de trabalho. Mortes invisíveis, ignoradas pelos meios de comunicação. Quanto às doenças profissionais reconhecidas – e de modo geral subestimadas – triplicaram em oito anos, atingindo 124 mil casos em 1999.
Por incrível que pareça, as condições de trabalho atuais nada têm a invejar às do início do século XIX. Os estudos sobre os acidentados do trabalho, realizados pela Direction de l’animation de la recherche, des études et des statistiques (Dares), controlada pelo Ministério do Emprego e da Solidariedade, estão cheios de provas nesse sentido. Tal como o de Emmanuel, com 17 anos, jovem aprendiz de carrocerias, obrigado a trabalhar a dois metros de altura, sem qualquer proteção e com ferramentas que não conhecia. Quando foi atingido por um fragmento no olho e caiu, seu patrão o fez se tratar sem declarar que se tratava de acidente de trabalho; quando o aprendiz voltou, foi submetido a diversos vexames... a ponto de romper seu contrato de aprendizado; o que o obrigou a deixar a escola. Emmanuel jamais trabalhará com carrocerias. A partir de então, vive de bicos e outros contratos por tempo determinado (CDD), com seqüelas (visão diminuída, problemas na coluna...). Seu caso não é único. Entre os 27 jovens, acompanhados durante três anos pelos pesquisadores, que saíram do curso de informática aplicada à mecânica, seis foram vítimas de acidente de trabalho, e apenas um foi declarado como tal junto ao Serviço de seguro-saúde.
(...)
Os assalariados mais velhos não são poupados. Um operário de uma fábrica terceirizada da Sollac, em Dunquerque, por exemplo, morreu após uma extenuante jornada de... 21 horas. Os especialistas descobriram inclusive um nome – "burn out" (exaustão) – para esse fenômeno de esgotamento no trabalho. Nem todas as vítimas morrem, mas a maioria sofre patologias pesadas (depressões, problemas nas articulações, dores na coluna...).
Os acidentes de trabalho e as doenças profissionais mudaram de forma, mas nada perderam de sua força destruidora. "Após uma década de redução, entramos em uma fase de aumento lento e regular dos acidentes", indica a Dares, na conclusão de sua pesquisa sobre as condições de trabalho na França em 1998. Essa constatação bate com a da Fundação Européia para Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (conhecida como Fundação Dublin), após dez anos de pesquisas na União Européia.
(Martine Bulard. “Uma máquina que mata”. In: Le Monde Diplomatique, 01.12.2001. In: http://diplomatique.uol.com.br/, acessado em 18.01.2011)

Prazo de entrega: 05 de maio

 Simples, não é? Qualquer dúvida me procurem no Colégio ou aqui, pelo espaço para comentários.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ainda sobre o caso do dep. Bolsonaro

Comentei anteriormente esta questão por aqui. O deputado pelo PP do Rio de Janeiro havia participado do programa CQC e falado, como de costume, algumas bobagens. O fato é que, entre outras coisas, as bobagens eram racistas.
A cantora Preta Gil havia perguntado qual seria a reação do parlamentar caso seu filho se apaixonasse por uma negra. A resposta foi:

"Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu".
O caso foi para a Corregedoria da Câmara, afinal o deputado tem autorização para ser racista imunidade parlamentar. Na Corregedoria, onde as raposas julgam seus pares em casos de crimes contra o galinheiro, Bolsonaro deve ser inocentado.

Corregedoria da Câmara deve inocentar Bolsonaro de acusação

Qual foi a defesa apresentada? O nobre deputado não havia entendido a pergunta! Se a moda pega não teremos mais nota baixa em prova bimestral. Basta alegar que, como não entendeu a pergunta, qualquer bobagem vale.

Bullying News

Pais registram denúncia de bullying em cartório
Tentativa é de garantir provas documentais da perseguição feita contra os filhos pela internet e usá-las em processos contra os autores da agressão
Há seis meses, pais passaram a registrar em cartório ofensas sofridas pelos filhos vítimas de cyberbullying. O documento é usado para provar agressões virtuais em processos movidos contra autores mesmo que as mensagens venham a ser retiradas das redes sociais. (...)


MP quer que bullying seja crime

Promotores da Infância e Juventude de São Paulo querem que o bullying seja considerado crime. Um anteprojeto de lei elaborado pelo grupo prevê pena mínima de um a quatro anos de reclusão, além de multa. Se a prática for violenta, grave, reiterada e cometida por adolescente, o autor poderá ser internado na Fundação Casa, a antiga Febem.
(...)
A educadora Madalena Guasco Peixoto, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), considera a proposta exagerada. “Essa questão não se resolve criminalizando, e para casos graves já existe o crime de lesão corporal”, opina. “As escolas precisam assumir a responsabilidade e, se tiver de haver punição, que seja aplicada pelos estabelecimentos de ensino”, defende. “O problema é que as escolas estão sendo omissas”, rebate o promotor Thales Cezar de Oliveira, que também assina o anteprojeto de lei.


Alguém disposto a se manifestar a respeito?

Sobre as dificuldades de convivência

Há termos que surgem sorrateiramente e se tornam quase moda frequentando rodas de conversa até então inimagináveis. A palavra bullying (e tudo o que ela significa) é um desses termos/assuntos/problemas que estão na crista da onda. Acho que me dei conta do peso deste fenômeno quando fui a um churrasco e a grande discussão foi a respeito dos efeitos danosos do bullying. Definitivamente aquele era o último lugar onde eu esperava ver um debate fervoroso com esta temática.
Mas eventos recentes trouxeram à tona as consequências extremas decorrentes do desrespeito entre as pessoas no plano cotidiano. Creio que em menos de 15 dias tivemos a veiculação do impressionante caso de Casey Haynes, o garoto australiano que ficou conhecido nas redes sociais como Zagief Kid após reagir a seu agressor, e a barbaridade causada por um jovem emocionalmente desequilibrado que abriu fogo contra um escola em Realengo, no Rio de Janeiro. Um tanto chocados, pais, professores, estudantes, a mídia em geral, todos parecem tentar entender o que leva alguém a praticar o bullying e, principalmente, como se faz para evitar esta conduta predatória.

Acesse AQUI a entrevista de Casey Haynes (com legendas).

Não sou especialista nem em psicologia da educaçao e muito menos em bullying, e, por isso, confesso que às vezes fico um pouco angustiado com esses casos todos. Fico me perguntando se estou deixando de ver algum caso em minha sala de aula, ou se estou sendo involuntariamente conivente. Lembro-me das vezes que sofri bullying no Ensino Fundamental ou no caso de minha irmã que sofreu calada inclusive à agressão física. Hoje ela é uma mulher de sucesso e feliz, mas sua vida escolar até a então 8a. série foi um inferno. Eu, na época, era um adolescente padrão empenhado em resolver meus próprios dilemas (e não eram poucos, como todo adolescente sabe!) e não fui capaz de ver que minha irmã precisava de ajuda. Ela, por sua vez, talvez achasse que em silêncio seria mais fácil de superar, de esperar passar. Quem a viu sofrer as agressões verbais e físicas não fez nada: a sala de aula tinha no mínimo 25 alunos e nenhum deficiente visual, e as professoras não souberam de nada ou pensaram que não era nada demais - "coisa da idade, eles sempre fazem 'panelinha'".
Aquela situação era muito ruim, mas agora penso que é pior. Não que haja mais casos, porém as possibilidades de perseguição - e esta é a prática mais cruel do bullying - são quase infinitas. Quando éramos crianças chegávamos em casa e estávamos a salvo. Nossas redes sociais eram a escola, o clube e a igreja, em todos os casos a presença física era imprescindível. Agora podemos levar para casa todos os nosso amiguinhos e nos "inimigozinhos" também. Liga-se o computador, o Orkut, o Facebook, o Twitter, o Msn e sei lá mais o que, pronto, as dores e as delícias da infância e da adolescência caminham do virtual para o real o tempo todo: fofocas, rumores, agressões, ameaças, deboches, etc.
As vezes que conversei com alunos a este respeito me espantei com algumas opiniões. Certo aluno me perguntou se combater o bullying não seria também combater o humor: não poderei mais apelidar meus colegas? Será que ele realmente não era capaz de distinguir entre um apelido afetuoso de quem é amigo e o apelido depreciativo de quem quer causar dor e sofrimento?
Lembrei-me neste instante de um colega de escola, acho que da 6a. série, que era chamado de "Fedido" ou "Fedô". Havia humor nisso? Honestamente, não. Imagino que eu até ria, talvez um tanto aliviado em saber que não era eu a vítima e com isso legitimava a agressão ao colega. Lamentável, não é?
Não me interessa agora remoer um sentimento de culpa, mas fica claro que as responsabilidades são múltiplas. No que me diz respeito diretamente, só posso assumir a minha responsabilidade como professor e convidar os alunos a assumirem as suas enquanto seres humanos e cidadãos que esperam ser um dia. Farei minha parte e espero contar com a colaboração dos outros.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Liberdade e Responsabilidade

Conversas em sala, comentários aqui no Blog e notícias recentes levantaram o debate sobre liberdade de expressão. Na verdade, este debate nunca sai de moda, dependendo apenas da ocasião para vermos os defensores da liberdade absoluta ou seus detratores para quem o ideal seria um controle sobre o que se diz.
O assunto é espinhoso e já aviso de antemão que não tenho qualquer pretensão a esgotá-lo aqui. Mas vamos tentar delimitar algumas questões.
A defesa veemente da liberdade de expressão como princípio da vida em sociedade surgiu de fato com os iluministas. Não só se expressar fazia parte da dinâmica do pensamento esclarecido - refletir e discutir são duas faces da mesma moeda - como passou a fazer parte da bandeira dos direitos do homem. Considerando que o Antigo Regime, com seus reis Absolutos, não permitiam a livre circulação de informações e opiniões, e usavam a censura como forma de controlar a disseminação de "ideias perigosas", a defesa do direito de se manifestar ia ao encontro das críticas à falta de outras liberdades como, por exemplo, a participação política. É neste contexto que teremos Voltaire afirmando
"Eu posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-lo"
Voltaire (1694-1778)
É bom destacar que Voltaire não era um defensor da democracia. Aliás, por "democracia" se entendia algo próximo à bagunça, pois não se considerava que o povo (a maioria) era capaz de participar da política. Contudo, faz-se necessário apontar que a defesa do direito de "dizer" é plenamente compreensível em um contexto de crítica a um regime opressor. Portanto, viver diariamente com a liberdade de expressão representa um cenário totalmente inédito para estes homens do século XVIII e que só será plenamente conhecido após a Revolução Francesa (e suas decorrências).
No caso brasileiro o Estado independente nascerá inspirado pelos preceitos liberais e ao contrário do que pode se imaginar a liberdade de expressão era tamanha que a linha do excesso era frequentemente ultrapassada.
Materializada pela imprensa, os jornais do século XIX gozavam de uma liberdade inacreditável para os nossos dias. Apesar de alguns processos contra os donos dos periódicos não parecia haver qualquer inconveniente em chamar o Regente Feijó de "padre imoral" ou afirmar que ele havia sido "parido em um chiqueiro de porcos".
A República, por sua vez, alternou momentos mais livres com momentos menos livres. Mas via de regra o controle de opinião recaía sobre os opositores. Quem estava em baixo criticava aqueles que estava em cima no edifício político. Mesmo antes das Ditaduras (Vargas e Militar) a censura ou o ataque aos jornais (chamado de empastelamento) era coisa relativamente comum.
Atualmente, as liberdades de pensamento e expressão estão resgardadas na Constituição de 1988 logo nos primeiros artigos, porém é público e notório que nossos Códigos também preveem punição para calúnia e difamação. Ou seja, o "X" da questão reside justamente em saber qual é a linha que separa o seu direito de falar do direito de não ser ofendido por quem fala.
Devemos ser livres para denunciar injustiças sociais, violências contra indivíduos, etc?
Devemos ser livres para defender a superioridade de uma raça sobre outra?
Estas duas questões são relativamente simples de responder. O Deputado Jair Bolsonaro facilmente incorreu no excesso de liberdade ou, sejamos mais francos e diretos, usou sua liberdade de expressão para manifestar seu racismo e sua homofobia. Assim como o caso do jornalista Caio Blinder que disse no Manhattan Connection, programa do canal Globo News, no dia 3 de abril em meio ao debate sobre as revoluções no mundo árabe:
"Politicamente, ela [a Rainha Rania, da Jordânia] e as outras piranhas [mulheres de ditadores] são intragáveis" (...) "Todas elas têm uma fachada de modernização desses regimes, ou seja, não querem parecer que são realeza parasita e nem mulher muçulmana submissa. Isso é para vender para o Ocidente, enquanto os maridos estão lá, batendo e roubando". (AQUI)

Há dúvidas de que Blinder falou bobagem? Não. Foi uma mega asneira vinda de um jornalista considerado sério. A saída, a única existente, foi a retratação pública. Já Bolsonaro preferiu argumentar que não entendeu as perguntas do programa CQC e por isso disse o que disse.
Em todo caso, não creio que a solução seja limitar a fala, mas arcar com as consequências de sua liberdade. Se meu pensamento tem autoria devo ser responsável por aquilo que verbalizo, como fez Blinder, e levando em conta que em alguns casos uma retratação não é o suficiente. Pode haver crimes envolvidos como racismo, incitação à violência, etc. E aí, cumpra-se a lei, diante da qual todos são iguais, correto?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Crise de 1929 em imagens

A Crise de 1929 é provavelmente a crise mais comentada da história, e não sem razão! O historiador Eric Hobsbawm considera que sem a catástrofe econômica daquele ano não teríamos o século XX como o tivemos. Num raro momento de "especulação histórica" o autor inglês sugere que sem 1929 não teríamos nem o nazismo alemão nem o reconhecimento do modelo soviético como um adversário real.
Vimos em sala de aula a lógica (ou ilógica) da crise com sua superprodução desencadeando um efeito dominó que atingiria desde o investidor até o menor dos produtores rurais e não só nos EUA, epicentro do terremoto que varreu a economia mundial. É importante salientar que este efeito em cadeia é o mais forte indício de uma economia capitalista que já se encontrava mundializada (ou globalizada, como preferirem): os investimentos estadunidenses na Europa, as exportações e importações de matéria prima e maquinário (situação típica do Brasil), etc.
No entanto, queria aproveitar o espaço para mostrar algumas fotos interessantes da crise nos EUA, principalmente porque nos acostumamos a ver a terra do Tio Sam como um lugar de fartura e poder econômico gigantescos. É bom lembrar, ainda, que o crash da Bolsa de Valores veio após um período razoalvelmente longo de crescimento econômico, desemprego baixo (4%) e otimismo generalizado.


A falência das empresas que se seguiram à falência dos bancos causou um incrível aumento do desemprego acabando com os anos dourados anteriores. A falta de trabalho regular, a pobreza e as condições precárias de moradia marcaram os anos conhecidos como a Grande Depressão, entre 1929 e 1933, pelo menos.

O governo estadunidense, como outros ao redor do mundo, tiveram que intervir não só na economia como um todo, mas também nas questões mais imediatas da vida cotidiana. São comuns as fotos que mostram as intermináveis filas de sopa ou de distribuição de bônus.

Nós estamos mais ou menos (e infelizmente) acostumados com as favelas, mas para os estadunidenses este cenário era devastador. O sonho da casa própria havia sido realizado para muitos graças aos empréstimos bancários, mas com a falência dos bancos tudo desapareceu. As hoovervilles, como ficaram conhecidas, proliferaram por quase toda grande cidade. Mas a miséria  no campo foi ainda maior, especialmente no interior do país e entre os pequenos produtores.

Esta fotografia, chamada Imigrant Mother talvez seja uma das mais da Grande Depressão. Seu olhar é incrivelmente expressivo: mãe de 7 crianças, seu marido morreu logo após perder o emprego em 1931, não possuia emprego para sustentar a casa. Ou seja, a miséria.
A situação norte-americana só veio a melhorar com a política do New Deal, implementada pelo governo Roosevelt, com investimentos em infraestrutura e medidas assistenciais que injetaram recursos na economia nacional. E não podemos esquecer a ajudinha que a II Guerra Mundial providenciou: se Hitler já tinha "descoberto" que investir em indústria bélica era um bom negócio, porque não esperar pelo mesmo resultado nos EUA?

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Você faz política?

O termo política deriva da palavra grega pólis que significa não só cidade como o viver as relações sociais que definem o próprio indivíduo. Atenas não era uma área construída, mas principalmente a reunião dos atenienses que compartilhavam uma mentalidade e um interesse pelo sucesso da coletividade. Portanto, fazer política seria, basicamente, viver ativamente a cidade. Aliás, daí temos também a palavra cidadão com sentido bem semelhante.
Porém, o grande problema está justamente na leitura que fazemos da política. Se perguntarmos por aí "quem faz política?" certamente ouviremos "os deputados, vereadores, prefeitos, etc.". Afinal, nossa democracia indireta permite esse tipo distanciamento. Acabamos pensando em política a cada 2 anos, nas eleições municipais e nas eleições estaduais/nacionais. Nós acabamos delegando não só a nossa autoridade como cidadãos que somos, mas também nossa voz na esperança que um vereador/deputado/senador/prefeito/governador/presidente entenda nossa realidade, pense em soluções, apresente e defenda propostas, e, por fim, as coloque em prática. É muito poder, não é?
Com todas as possibilidades de participação, colaboração e divulgação uma ONG de São Paulo pensou em criar uma rede social de cidadãos, organizações e políticos profissionais interessados em apontar os problemas e buscar soluções para os problemas de suas cidades. Por que "cidades"? Ora, como o Prefeito Faria Lima afirmou certa vez, ninguém mora na União ou no Estado, é na cidade que as relações acontecem.
Surgiu, então, o projeto Cidade Democrática.


Que tal participar um pouco mais? Ou prefere continuar xingando muito no Twitter?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Nacionalismos Brasileiros II

O post anterior acabou me levando a reler minhas anotações. Há muito tempo tenho guardo quatro (?) "canções do exílio". Obviamente é uma brincadeira, mas não só minha. Os poetas adoram fazer referências, especialmente quando se veem engajados em alguma releitura do Brasil.
Gonçalves Dias, pai da verdadeira "Canção do Exílio" escreveu em 1843 quando se encontrava em Coimbra, estudando Direito. Olhando de longe, com saudade e inspirado pela poesia portuguesa de Alexandre Herculano e Almeida Garrett, assim se expressou:
Canção do Exílio
(Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
O poeta modernista mineiro, Murilo Mendes, escreveu em 1930 a sua versão da Canção. No entanto, seu exílio ocorria dentro do Brasil: imerso no país real escrevia com os olhos no país que desejava.
Canção do Exílio 
(Murilo Mendes)
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
A preocupação com as influências externas, com os preços altos e a política turbulenta não apareciam nos horizontes de Gonçalves Dias. No entanto, o Brasil de Murilo Mendes ainda parecia mais suave que o de Cacaso, poeta da cidade de São Carlos (interior de São Paulo) que escreveu em 1974, imerso na Ditadura Militar.
Jogos Florais
(Cacaso)
I
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.

Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
A água já não vira vinho,
vira direto vinagre.

II
Minha terra tem Palmares
memória cala-te já.
Peço licença poética
Belém capital Pará.

Bem, meus prezados senhores
dado o avanço da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.

(será mesmo com dois esses
que se escreve paçarinho?)
Palmeiras que lembram Palmares, refúgio daqueles que lutaram contra a opressão, disputam lugar com um Brasil moderno, filho do "Milagre Econômico" da Ditadura. Saudade da terra onde a água não vira vinho, mas direto vinagre? Não parece. Mais semelhança há com o Brasil de Cazuza, do álbum Ideologia, de 1988, saindo daquela mesma Ditadura.

Brasil
(Cazuza)

Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer

A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro

Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha

Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer

Não me sortearam
A garota do "Fantástico"
Não me subornaram
Será que é o meu fim
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer sim, sim

Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)

Num misto de desapontamento e esperança, Cazuza, parece ao meu ver, sepultar a  "Canção do Exílio". Aquele ufanismo (= orgulho exagerado do país) não teria mais lugar no Brasil que, para muitos, renascia depois de cerca de duas décadas de Ditadura Militar. No mesmo ano da Constituinte o músico-poeta (ou poeta-músico) apresentava também naquele álbum a música título "Ideologia", enterrando também velhos heróis...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Nacionalismos brasileiros

Aquele post sobre os pracinhas brasileiros (AQUI) motivado por um livro de Cesar Campiani Maximiano gerou um comentário curioso. Ao contrário do que eu poderia imaginar, um ex-aluno manifestou seu interesse por canções militares e se lembrou da "Canção do Expedicionário". Eu conhecia a "Canção" um tanto superficialmente, nunca havia me preocupado em lê-la com atenção especialmente porque, admito, respeito as Forças Armadas, mas meu pacifismo é um tanto radical ao ponto de me manter a uma boa distância da temática marcial.Desta vez, intrigado pela sugestão do Krisman nos comentários, fui ler e ouvir a "Canção do Expedicionário", inicialmente para entender o que ele havia achado de tão interessante! Não sei o que ele achou interessante, mas sei o que eu encontrei.
Guilherme de Almeida
Primeiramente, não me lembrava que a "Canção" era de autoria de Guilherme de Almeida (1890-1969). Apesar de sempre nos lembrarmos de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Drummond, atualmente são poucas as referências aos demais modernistas. Almeida foi um grande poeta e grande propagandista da poesia do grupo da Semana de 1922, apesar de ser um pouco mais tradicional (ou parnasiano) que os demais. O poeta chegou a excursionar pelo Brasil dando palestras e lendo poemas para divulgar a poesia "moderna" da Semana. Daí meu espanto em ver seu nome em um hino militar, pois eu desconhecia sua participação na Revolução Constitucionalista de 1932, e suas poesias em comemoração ao IV Centenário da Cidade de São Paulo e à fundação de Brasília.
Contudo, não foi a biografia do poeta que mais chamou minha atenção. A poesia da "Canção do Expedicionário" é cheia de referências muito peculiares, a começar pela temática nacionalista ou mesmo ufanista. Este amor pela nação, pela ideia de uma comunidade cuja identidade comum a mantém unida, que de tempos em tempos resurge nos mais diversos pontos do mundo ocidental e frequentemente se reclama no Brasil de sua ausência transborda nos versos de Guilherme de Almeida. Um nacionalismo que é fundamental em uma canção militar, é verdade. Não se pode imaginar o envio de tropas à frente de batalha que não estejam plenamente identificadas com a bandeira que carregam. E o poeta, onde fica nesta história?
O modernismo paulista com sua proposta antropofágica, com seu manifesto pau-brasil, com sua defesa do olhar para as peculiaridades da própria terra, estava defendendo justamente uma arte que retomasse o Brasil, que olhasse para o Brasil como musa inspiradora. Alguns foram mais cautelosos, Almeida derramou-se em amor pela pátria. Ao expressar todo esse amor foi encontrar na literatura brasileira que ele tanto conhecia a referência no outro momento nacionalista por excelência: o Romantismo.
Creio que neste caso a referência seja óbvia no refrão da "Canção do Expedicionário":
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá (...)
 Não há como negar a homenagem feita à "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias:
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias
Gonçalves Dias (1823-1864) escrevia sob a perspectiva de fundação de uma visão de Brasil explorando os temas consagrados do Romantismo, segundo Alfredo Bosi: a Natureza, a Pátria e a Religião. A exaltação da pátria de Gonçalves Dias manifestasse na saudade de quem estava na Europa enquanto Guilherme de Almeida escreve pensando no brasileiro que vai para a Europa em nome de um Brasil para o qual vai retornar, sem, contudo, deixar de explorar os mesmo temas, ainda que de modo diferente.
Em trecho seguinte, o poeta moderno volta a fazer referência ao colega romântico, mas também incorpora duas canções populares:
Você sabe de onde eu venho?
E de uma Pátria que eu tenho
No bôjo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.
 O sabiá de Gonçalves Dias aparece, então, cantando não mais no alto de uma palmeira, mas no "Meu limão, meu limoeiro", próximo à "Casinha da Colina", duas músicas extremamente populares. Ou seja, Guilherme de Almeida não só escreveu uma "Canção" nacionalista, como usou referências que tocavam fundo nas lembranças afetivas do brasileiro comum: sucesso na certa! Tinha como não dar certo?


Para saber +
No site da Academia Brasileira de Letras (ABL) há duas boas biografias.
Guilherme de Almeida se tornou um acadêmico em 1930, recebendo justamente a cadeira n. 15 cujo patrono é Gonçalves Dias.
Aproveite e leia também os "Textos Escolhidos" para cada autor.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Material de aula

Mais uma Virada

Em 2010 eu já havia divulgado aqui a Virada Cultural. Sou um entusiasta confesso das 24h de música, teatro, circo, cinema, artes em geral, evando milhares de pessoas para as ruas do centro de São Paulo. Este ano a programação me pareceu mais extensa que a do ano passado. Já li e reli a relação dos palcos e artistas, mas ainda não me decidi. Sei que não vou assistir Lucha Libre (sim, aqueles caras mascarados lutando de mentirinha) nem vou participar do circuito Cosplay (eu passo!), mas tem um super palco com Funk e R&B de verdade, outro com Beatles4ever tocando TODOS os álbuns dos Beatles na sequência, o palco da Luz com o instrumental sinfônico de sempre, nações de Maracatu, etc.
Vamos ver quanto eu vou conseguir assistir!

Confira a programação para os dias 16 e 17 de abril AQUI.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tempo de recuperação

Pessoal,

Chegando ao fim de mais um bimestre temos as recuperações.
Como manda o figurino o roteiro de recuperação já está disponível para download no site do Colégio, mas por segurança eu o repetirei aqui.
Notem que as orientações se repetem para cada ano. Sim, a regra é a mesma para todo mundo. E sejamos honestos, não são tantos exercícios. Eles são apenas para guiar seus estudos e sua revisão a fim de provocar suas dúvidas. Aguardo vocês!


2a. séries 

Serão objeto da Recuperação os mesmos temas abordados na Prova Bimestral (com exceção do capítulo 14):
Escravidão antiga, moderna e contemporânea (capítulo 15)
Trabalho assalariado e a Revolução Industrial (capítulo 16)

ATENÇÃO!!O plantão de recuperação não se propõe a rever todo o conteúdo do bimestre, portanto cabe ao aluno estudar previamente e trazer suas dúvidas.
É fundamental que o aluno que vier ao plantão de recuperação (dia 15.04) traga o Livro Didático.
Foram selecionados os seguintes exercícios:
P. 300: 02, 03, 04 e 05
P. 316: 01, 03 e 04
Os alunos devem trazer estes sete exercícios feitos no dia do plantão.

3a. séries

Serão objeto da Recuperação os mesmos temas abordados na Prova Bimestral: 
 

  • Imperialismo e Capitalismo Monopolista 
  • Primeira Guerra Mundial: antecedentes e consequências 
  • Revolução Russa
ATENÇÃO!!
O plantão de recuperação não se propõe a rever todo o conteúdo do bimestre, portanto cabe ao aluno estudar previamente e trazer suas dúvidas.
É fundamental que o aluno que vier ao plantão de recuperação (dia 15.04) traga o Livro Didático.
Foram selecionados os seguintes exercícios:
P. 422-423: 01 a 07.
P. 436-437: 02, 05, 06, 07, 08 e 10.
Os alunos devem trazer estes oito exercícios feitos no dia do plantão.
Obs.: Está disponível também para download uma lista de exercícios extra. Recomenda-se que o aluno de recuperação resolva todos os exercícios.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Luto

Meus melhores sentimentos aos pais dos estudantes da escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo (Rio de Janeiro), barbaramente assassinados e aos seus colegas sobreviventes.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Um pouco de 2a. Guerra Mundial

Contrariando a inicial e oportuna neutralidade brasileira diante da 2a. Guerra Mundial, o Governo Vargas acabou por aderir à frente Aliada em 1944 enviando para o front italiano 25.334 homens. Este contigente formou a Força Expedicionária Brasileira (FEB), e seus combatente ficaram conhecidos simplesmente como "os pracinhas".
Desfile da FEB, em seu retorno, na Cinelândia (Rio)
Durante um bom tempo e ainda para muita gente, falar da FEB provoca sentimentos patrióticos. Apesar da participação brasileira na 1a. Guerra Mundial, foi na guerra de 1939-1945 que o Brasil efetivamente se engajou participando de 445 missões contra os alemães no norte da Itália sob supervisão dos EUA. Mas deixando de lado o patriotismo ingênuo podemos encontrar aspectos pouco explorados deste envolvimento.
Pesquisas recentes do historiador César Campiani Maximiano, da PUC-SP, revelam o pouco treinamento, desconhecimento do armamento oferecidos pelos norte-americanos, falta de planejamento e de motivação clara dos pracinhas.
Um dos comandantes brasileiros, Gal. Zenóbio da Costa, diante do questionamento a respeito da falta de treinamento teria dito: "Não precisa! Os meus meninos tomam aquela merda no grito!". Contudo, nem sempre dava para resolver "no grito" e erros simplórios foram cometidos, apesar do sucesso alcançado.
Este contexto não significa qualquer demérito ou ofensa à FEB, mas, ao contrário, mostra o grau do sacrifício humano realizado por uma questão de política internacional. Ironicamente, o retorno desses homens acabou por escancarar as incoerências do governo ditatorial e de inspiração fascista de Getúlio Vargas. Tendo lutado ao lado dos Aliados contra o Eixo nazi-fascista, a ação dos pracinhas foi devidamente explorada pela mídia no questionamento do Estado Novo. Não por acaso que alguns consideram que os pracinhas venceram duas vezes, uma na Europa e outra no Brasil.

Sobre o trabalho de Maximiano li AQUI.
Barbudos, Sujos e Fatigados: soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial
Autor: Cesar Campiani Maximiano
Editora: Grua Livros

terça-feira, 5 de abril de 2011

Deu no CQC


Coincidência, mera coincidência... sempre.

São Paulo em fotos

Uma amiga minha, Camila Garcia, é fotógrafa e está desenvolvendo um projeto junto com outro fotógrado, Renato Negrão. A proposta - Paisagem e Memória diálogos sobre a transformação da metrópole - é documentar por fotos e textos as transformações sofridas no bairro da Luz, centro velho de São Paulo.
Segundo consta no próprio site,
Um lugar na Internet para refletir sobre a preservação da memória na cidade em constante mudança. Paisagem e Memória diálogos sobre a transformação da metrópole nasceu da vontade de dois profissionais de retratar em seus trabalhos a passagem do tempo e o rastro, muitas vezes de destruição, que a acompanha.
A grande cidade muda vertiginosamente. A paisagem cada vez mais transitória, vê seus casarões e prédios antigos darem lugar a novos projetos arquitetônicos, mas não antes sem passar por um período de vazio: é como se a cidade, por um minúsculo espaço de tempo, devolvesse à vida a terra nua, crua, de outrora.
Não existe porém lugar para o vazio na metrópole. Ela precisa prosseguir, e novos prédios são levantados e ruas são criadas, alterando uma vez mais a região. A história contida da cena urbana que foi demolida se perde, ou passa a existir apenas entre aqueles indivíduos que fizeram parte desta paisagem.
Os autores publicarão textos, ensaios fotográficos e vídeos, de sua autoria ou de convidados, sempre com o objetivo de estimular o conhecimento e interesse do público pela cultura. Para isso o projeto pretende criar um debate sobre a rápida transformação da cidade de São Paulo, usando as artes visuais como suporte.

Periodicamente os dois fotógrafos postam um novo ensaio abordando uma face do bairro, das mudanças ou das pessoas que vivem essas mudanças do bairro.

Foto de Camila Garcia, em Paisagem e Memória
Se, por um lado, o projeto documenta as transformações atuais em diálogo direto com a memória do habitantes, por outro lado há tanto da história do crescimento urbano de São Paulo...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Novo impulso imperialista?

Em entrevista à Folha de S. Paulo o Prof. José Luís Fiori, coordenador do programa de pós-graduação em economia política internacional da UFRJ, apresentou uma leitura muito interessante a respeito do envolvimento dos EUA, França e Inglaterra no combate às forças do ditador líbio. Para Fiori, estaríamos presenciando uma re-edição do imperialismo do século XIX e início do XX.
Confesso que não fiquei totalmente convencido com os argumentos do professor, mas não deixa de ser uma leitura interessante cujo itinerário vai do neocolonialismo, passando pelos efeitos da Guerra Fria até a geopolítica atual. Em suma, uma boa revisão conceitual.

Mapa francês da África (c. 1898) com as reivindicações coloniais. Em verde, posses alemãs; laranja, belgas; amarelo, britânicas; rosa, francesas; roxo, portuguesas; e em marrom a Etiópia, independente.

Abaixo seguem as três perguntas iniciais feitas pela jornalista Eleonora de Lucena. A entrevista na íntegra está AQUI.

Folha -Como o sr. analisa a guerra na Líbia?
José Luís Fiori - " É evidente que não se trata de uma discussão sobre o direito a vida dos líbios, ou sobre os chamados direitos humanos, e menos ainda, sobre democracia. Nesta, como em todas as demais intervenções deste tipo, de europeus e dos EUA, feitas neste último século, jamais se esclarece a questão central de quem tem o direito de julgar e arbitrar a existência ou não de desrespeito aos direitos humanos em algum país em particular, e quem determina o lugar em que a "comunidade internacional" deve ou não intervir para defender vidas e direitos. Com relação a quem arbitra, são sempre os mesmos países que Samuel Huntington chamou de "diretório militar" do mundo, ou seja, EUA, Inglaterra e França. E, com relação aos critérios da arbitragem, é óbvio que este diretório jamais intervém contra um país, ou contra um governante aliado, por mais autoritário e anti-democrático que ele seja, e por mais que ele desrespeite os direitos defendidos pelos europeus e pelos norte-americanos. Independentemente do que se pense sobre o fundamento e a universalidade dos direitos humanos, não há a menor dúvida que, do ponto de vista das relações entre os Estados dentro do sistema mundial, eles sempre são esgrimidos e utilizados como instrumento de legitimação das decisões geopolíticas e geo-economicas das grandes potencias. Por isto, as decisões sobre este assunto nos foros internacionais são sempre políticas e instrumentais e variam segundo a vontade e segundo os interesses estratégicos destas grandes potências.

A guerra é sobre o petróleo?
O que está em jogo na Líbia não é apenas Petróleo. Nem tudo no mundo da geopolítica e da luta de poder entre as grandes e médias potências tem a ver com energia, ou mesmo, com economia. Neste caso, está em jogo o controle de uma região fronteiriça da Europa, parte importante do Império Romano, e território privilegiado do alterego civilizatório da "cristandade". Foi por onde começou o colonialismo europeu, no século 15 e depois, de novo, no século 19. Acho que já estamos assistindo uma nova corrida imperialista na África, e que não é impossível que se volte a cogitar de alguma forma renovada de colonialismo.

Como seria essa corrida imperialista? O que deve acontecer por lá? As revoltas árabes em curso terão algum impacto no poder dos Estados Unidos na região e no mundo?Durante a década de 90, generalizou-se a convicção de que a África seria um continente inviável e marginal dentro do processo vitorioso da globalização econômica. Tratava-se de um continente que não interessaria às grandes potências nem às suas corporações e bancos privados. Mas a África não é tão simples nem homogênea, com seus 53 Estados, cinco grandes regiões e seus quase 800 milhões de habitantes. Um mosaico gigantesco e fragmentado de Estados, onde não existe um verdadeiro sistema estatal competitivo, nem tampouco se pode falar de uma economia regional integrada De fato, o atual sistema estatal africano foi criado pelas potências coloniais europeias e só se manteve integrado, até 1991, graças à guerra fria e à sua disputa bipolar. Depois da guerra fria e do fracasso da intervenção dos Estados Unidos na Somália, em 1993, os EUA redefiniram sua estratégia para o continente negro: propondo, como objetivo central, o crescimento econômico, através dos mercados, da globalização e da democracia. Mas de fato, a preocupação dos Estados Unidos com a África se restringiu até o fim do século 20, quase exclusivamente, à disputa das regiões petrolíferas e ao controle e repressão das forças islâmicas e dos grupos terroristas do Chifre da África. Mas deverá ocorrer uma mudança radical, nas próximas duas décadas, do comportamento norte-americano e dos europeus, graças à invasão econômica da China da Rússia, da Índia e, inclusive, do Brasil. A África será de novo um ponto central da nova corrida imperialista que já está em curso e que deverá se aprofundar ainda mais na próxima década Neste período, não é improvável, inclusive, que as velhas e novas potências do sistema mundial, envolvidas na disputa pelos recursos estratégicos da África, voltem a pensar na possibilidade de conquista e dominação colonial de alguns dos atuais países africanos que foram criados pelos próprios colonialistas europeus. E é nesta perspectiva que acho que deve refletir sobre a reação européia e norte-americana frente às revoltas árabes. E, em particular, no caso da intervenção militar na Líbia, comandada pela Otan e liderada pelos EUA, Inglaterra e França. (CONTINUA)

Mais uma leitura

Algumas pessoas devem se perguntar se eu não tenho outro tema além das "revoltas árabes". Mas a verdade é que não consigo deixar de olhar com curiosidade para o que está acontecendo por lá, talvez por não saber ao certo onde tudo isso vai parar. Ou seja, para mim há uma emoção em seguir as notícias como se fossem capítulos de uma novela muito bem escrita, justamente porque é real. Até que a situação no norte da África se "resolva" vou acompanhando as interessantes reflexões que ora aqui ora ali surgem nos meios de comunicação.
O texto abaixo é especialmente rico porque oferece um recorte diferente. O autor vai resgatar a ideia de "prometido" muito cara aos muçulmanos (mas também presente do universo judaico-cristão) para discutir o caráter que o governante da Libia, Muamar Kadafi, queria imprimir ao seu governo-reinado-tirania.
Vale a leitura!


"Al-Gaddafi" não é “Al-Mahdi"
Assim como um Mahdi (o messias - o ungido), o coronel Kadafi se considera fonte de todo o conhecimento.
por Filipe Pinto Monteiro, Mestrando em História Social da UFRJ e bolsista do CNPQ

sábado, 2 de abril de 2011

Eu tento mudar de assunto...

Eu juro que eu tento mudar de assunto, não voltar a discutir o racismo, mas... a sociedade brasileira não deixa! Para quem acha que não há racismo no Brasil temos Jair Bolsonaro, Deputado Federal pelo PP do Rio de Janeiro em uma entrevista horripilante no CQC.



Set list da entrevista:
  • Saudade da Ditadura
  • Na Ditadura não havia corrupção
  • Na Ditadura havia respeito e valorizava-se a família
  • Ter Bomba Atômica é legal
  • Homossexualismo é questão de educação e pais ausentes
  • Namorar uma mulher negra é questão de promiscuidade
Ou seja, um belo compêndio de reacionarismo, chauvinismo, machismo, homofobia, racismo e... cara de pau, muuuuuita cara de pau!!!

Vejam a pequena repercussão dessa entrevista:
Presidente da OAB diz que Bolsonaro violou a Constituição
Mobilizações contra Bolsonaro crescem na internet
ABGLT entra com representação contra Bolsonaro na Procuradoria
Declarações de Bolsonaro são ‘caso explícito’ de racismo, diz ministra da Igualdade Racial


Além de discutirmos o racismo brasileiro podemos aproveitar a oportunidade para pensar os limites da liberdade de expressão. Alguém topa?





P.S.: Chauvinismo - entusiasmo excessivo pelo que é nacional, e menosprezo sistemático pelo que é estrangeiro, entusiasmo intransigente por uma causa, atitude ou grupo.

Uma discussão inacabada

Eu e Sérgio, aluno da 3a. série, começamos uma discussão após uma aula há alguns dias a respeito da natureza do ser humano - naturalmente bom ou naturalmente mau - e a possibilidade de se construir algo melhor coletivamente. O debate, muito interessante, não se encerrou e também não pretendo retomá-lo aqui em detalhes, mas chamou minha atenção o fato de ele ter voltado à questão nos comentários do blog. Ele falou em envolvimento "lá e cá", citando um humorista que (se entendi corretamente) ironizava a comoção das pessoas em casos de catástrofes: "estou totalmente envolvido, eu cá e eles lá".
Entendo perfeitamente o limite de ação e as possibilidades que temos. Mas não consigo entender ou aceitar a passividade. O inconformismo ou qualquer outra emoção, mesmo que sem possibilidade de ação direta, é preferível ao mero olhar inerte.
E toda vez que penso nisso me vem à mente a passagem abaixo, de um sacerdote anglicano:
Nenhum homem é uma ilha, um ser inteiro em si mesmo; todo homem é uma partícula do continente, uma parte da terra. Se um pequeno torrão carregado pelo mar deixa menor a Europa, como se todo um promontório fosse, ou a herdade de uma amigo seu, ou até mesmo a sua própria, também a morte de um único homem me diminui, porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.

(John Donne)
Mas eu já havia quase me esquecido deste tema quando caiu em minhas mãos um texto em pleno Fórum Permanente de Professores (dos Colégios jesuítas). O autor é talvez o maior nome da educação brasileira e mundialmente reconhecido, Paulo Freire:
A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir. (...) É preciso que seja capaz de, estando no mundo, saber-se nele. (...) Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de "distanciar-se" dele para ficar com ele; capaz de armirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo e, transformando-o, saber-se tranformado pla própria criação; um ser que é e está sendo no tempo que é o seu, um ser histórico, somente este é capaz, por tudo isto, de comprometer-se".
(Paulo Freire)
Com o que você se compromete? Você se sente capaz de se comprometer? Ou ainda, você se vê parte da Humanidade e, por tanto, realmente humano?
Pensemos todos, uns cá e outros lá.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O primeiro texto de um colaborador

Há alguns dias o ex-aluno Gabriel Krisman Bertazi me enviou um e-mail fazendo uma sugestão de texto para o blog. Tratava-se de uma notícia da Folha de S. Paulo a respeito de problemas recentes da Fuvest. Obviamente a pauta interessava, mas achei que poderia inverter a situação. Devolvi a sugestão e perguntei-lhe se não queria escrever um post. Junto com o "aceito" ele já enviou o texto prontinho.
Espero que esta tenha sido a primeira de outras colaborações (e não apenas do Krisman!).


Problemas na Fuvest: Treineiros disputam vagas reais

Essa semana li na Folha Online, no caderno Saber, sobre uma questão bastante séria que pode trazer grandes prejuízos aos vestibulandos. Trata-se dos “treineiros piratas” conforme definição da própria Folha.
Na Fuvest, existe a opção de inscrição como “treineiro” para os alunos que, por não terem terminado o ensino médio, não podem se matricular na USP. Assim praticam para quando puderem fazer a prova “para valer”.
A Fuvest disponibiliza três carreiras “fictícias”, uma de exatas, uma de humanas e uma de biológicas, nas quais os treineiros podem se candidatar, a fim de fazer a segunda fase da prova com matérias específicas de sua área de interesse.
Todavia, as vagas de ingresso na segunda fase nessas carreiras são limitadas. De fato, pela grande procura de treineiros, as notas de corte, essenciais para aprovação do candidato à segunda fase, costumam ser bem altas, se comparadas a diversos cursos reais da USP.
É nesse cenário que a Folha apresentou o problema. Para garantir que possam fazer a segunda fase, muitos treineiros acabam procurando carreiras reais, com notas de corte mais baixas, prejudicando candidatos que realmente buscam aquela vaga.
No vestibular 2011, por exemplo, no curso Ciências da Informação e da Documentação, oferecido no campus de Ribeirão Preto, 47% dos inscritos eram treineiros.
Essa situação gera grandes problemas para candidatos reais. Primeiramente, pelo aumento da relação candidato/vaga que, mesmo não sendo um fator direto que atrapalha no vestibular, sabemos a tranquilidade que um C/V baixo pode causar.
Outro problema gerado pelos treineiros piratas ocorre na hora da convocação. Como o número de treineiros aprovados nos cursos reais é bastante grande, a lista de aprovados varia muito de uma chamada para outra. Desta forma, muitos candidatos reais que poderiam ter passado nas primeiras chamadas, ficam para traz, e muitos, abandonam o concurso da Fuvest para se matricularem em outro lugar.
Mas o pior problema é, na minha opinião, as notas de corte. Com o aumento da concorrência nesses cursos, as notas de corte tendem a subir, barrando o acesso à segunda fase de candidatos reais, que poderiam ter sido aprovados.
Resolver a questão é fácil, a Fuvest poderia barrar o acesso, na inscrição, aos alunos que não tem ensino médio completo às carreiras reais, por exemplo. Mas a melhor atitude, aquela que beneficiaria tanto os candidatos reais quanto os treineiros, seria o aumento do número de vagas nas carreiras fictícias. Isto reduziria as notas de corte na raiz do problema, permitindo o acesso dos que querem treinar à segunda fase, sem atrapalhar quem quer prestar um curso menos concorrido.
Não se pode questionar a estrutura e a capacidade da Fuvest de fazer isso. Um exame que sempre foi exemplo de seriedade e compromisso, além de uma organização impecável, não vai permitir que candidatos saiam prejudicados. Por certo, a Fuvest tomará providencias. Só resta saber o que será feito, e como isso afetará os candidatos deste ano.
 
Notícia da Folha de S. Paulo AQUI