Há termos que surgem sorrateiramente e se tornam quase moda frequentando rodas de conversa até então inimagináveis. A palavra bullying (e tudo o que ela significa) é um desses termos/assuntos/problemas que estão na crista da onda. Acho que me dei conta do peso deste fenômeno quando fui a um churrasco e a grande discussão foi a respeito dos efeitos danosos do bullying. Definitivamente aquele era o último lugar onde eu esperava ver um debate fervoroso com esta temática.
Mas eventos recentes trouxeram à tona as consequências extremas decorrentes do desrespeito entre as pessoas no plano cotidiano. Creio que em menos de 15 dias tivemos a veiculação do impressionante caso de Casey Haynes, o garoto australiano que ficou conhecido nas redes sociais como Zagief Kid após reagir a seu agressor, e a barbaridade causada por um jovem emocionalmente desequilibrado que abriu fogo contra um escola em Realengo, no Rio de Janeiro. Um tanto chocados, pais, professores, estudantes, a mídia em geral, todos parecem tentar entender o que leva alguém a praticar o bullying e, principalmente, como se faz para evitar esta conduta predatória.
Acesse AQUI a entrevista de Casey Haynes (com legendas).
Não sou especialista nem em psicologia da educaçao e muito menos em bullying, e, por isso, confesso que às vezes fico um pouco angustiado com esses casos todos. Fico me perguntando se estou deixando de ver algum caso em minha sala de aula, ou se estou sendo involuntariamente conivente. Lembro-me das vezes que sofri bullying no Ensino Fundamental ou no caso de minha irmã que sofreu calada inclusive à agressão física. Hoje ela é uma mulher de sucesso e feliz, mas sua vida escolar até a então 8a. série foi um inferno. Eu, na época, era um adolescente padrão empenhado em resolver meus próprios dilemas (e não eram poucos, como todo adolescente sabe!) e não fui capaz de ver que minha irmã precisava de ajuda. Ela, por sua vez, talvez achasse que em silêncio seria mais fácil de superar, de esperar passar. Quem a viu sofrer as agressões verbais e físicas não fez nada: a sala de aula tinha no mínimo 25 alunos e nenhum deficiente visual, e as professoras não souberam de nada ou pensaram que não era nada demais - "coisa da idade, eles sempre fazem 'panelinha'".
Aquela situação era muito ruim, mas agora penso que é pior. Não que haja mais casos, porém as possibilidades de perseguição - e esta é a prática mais cruel do bullying - são quase infinitas. Quando éramos crianças chegávamos em casa e estávamos a salvo. Nossas redes sociais eram a escola, o clube e a igreja, em todos os casos a presença física era imprescindível. Agora podemos levar para casa todos os nosso amiguinhos e nos "inimigozinhos" também. Liga-se o computador, o Orkut, o Facebook, o Twitter, o Msn e sei lá mais o que, pronto, as dores e as delícias da infância e da adolescência caminham do virtual para o real o tempo todo: fofocas, rumores, agressões, ameaças, deboches, etc.
As vezes que conversei com alunos a este respeito me espantei com algumas opiniões. Certo aluno me perguntou se combater o bullying não seria também combater o humor: não poderei mais apelidar meus colegas? Será que ele realmente não era capaz de distinguir entre um apelido afetuoso de quem é amigo e o apelido depreciativo de quem quer causar dor e sofrimento?
Lembrei-me neste instante de um colega de escola, acho que da 6a. série, que era chamado de "Fedido" ou "Fedô". Havia humor nisso? Honestamente, não. Imagino que eu até ria, talvez um tanto aliviado em saber que não era eu a vítima e com isso legitimava a agressão ao colega. Lamentável, não é?
Não me interessa agora remoer um sentimento de culpa, mas fica claro que as responsabilidades são múltiplas. No que me diz respeito diretamente, só posso assumir a minha responsabilidade como professor e convidar os alunos a assumirem as suas enquanto seres humanos e cidadãos que esperam ser um dia. Farei minha parte e espero contar com a colaboração dos outros.
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