sábado, 2 de abril de 2011

Uma discussão inacabada

Eu e Sérgio, aluno da 3a. série, começamos uma discussão após uma aula há alguns dias a respeito da natureza do ser humano - naturalmente bom ou naturalmente mau - e a possibilidade de se construir algo melhor coletivamente. O debate, muito interessante, não se encerrou e também não pretendo retomá-lo aqui em detalhes, mas chamou minha atenção o fato de ele ter voltado à questão nos comentários do blog. Ele falou em envolvimento "lá e cá", citando um humorista que (se entendi corretamente) ironizava a comoção das pessoas em casos de catástrofes: "estou totalmente envolvido, eu cá e eles lá".
Entendo perfeitamente o limite de ação e as possibilidades que temos. Mas não consigo entender ou aceitar a passividade. O inconformismo ou qualquer outra emoção, mesmo que sem possibilidade de ação direta, é preferível ao mero olhar inerte.
E toda vez que penso nisso me vem à mente a passagem abaixo, de um sacerdote anglicano:
Nenhum homem é uma ilha, um ser inteiro em si mesmo; todo homem é uma partícula do continente, uma parte da terra. Se um pequeno torrão carregado pelo mar deixa menor a Europa, como se todo um promontório fosse, ou a herdade de uma amigo seu, ou até mesmo a sua própria, também a morte de um único homem me diminui, porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.

(John Donne)
Mas eu já havia quase me esquecido deste tema quando caiu em minhas mãos um texto em pleno Fórum Permanente de Professores (dos Colégios jesuítas). O autor é talvez o maior nome da educação brasileira e mundialmente reconhecido, Paulo Freire:
A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir. (...) É preciso que seja capaz de, estando no mundo, saber-se nele. (...) Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de "distanciar-se" dele para ficar com ele; capaz de armirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo e, transformando-o, saber-se tranformado pla própria criação; um ser que é e está sendo no tempo que é o seu, um ser histórico, somente este é capaz, por tudo isto, de comprometer-se".
(Paulo Freire)
Com o que você se compromete? Você se sente capaz de se comprometer? Ou ainda, você se vê parte da Humanidade e, por tanto, realmente humano?
Pensemos todos, uns cá e outros lá.

8 comentários:

  1. Profeta,
    Realmente, é difícil. Mas a gente tenta, não é verdade. Tipo, não é porque o homem é insensível ou maldoso por natureza, que vamos esquecer da bondade que existe ou possa existir.
    E vamo que vamo. Como já disse Renato Russo: "Ter bondade é ter coragem." Mas falta coragem de se abrir com o outro e se envolver. Não acha?

    Sérgio Gorni

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  2. Sérgio,
    Como prefiro me empenhar em ser otimista, vejo o inverso de você. Não se trata de reeditar o "bom selvagem", mas é confortável crer que a maldade é exceção. Os jornais não ajudam, é verdade, porém raramente nos lembramos que o universo amostral da humanidade é exorbitantemente maior (6 bilhões de pessoas no mundo!).
    Concordo com Renato Russo. É o que impede de crer na bondade?

    Abraço

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  3. Mestre,
    Acredito na bondade e procuro exerce-la.
    Eu não creio é que os homens tenham capacidade, ou melhor, coragem, para serem bons. Ser bom demanda muita boa vontade, exige que você ponha fé no outro e o coloque antes que você. Só que numa fila, quando você põe todo mundo na tua frente, você acaba sendo o último. Mas não é por isso que devemos deixar de procurar a bondade, né não? Eu "estou" (porque o homem não "é" , ele "está") teu oposto, Chefia. Prefiro me surpreender do que me decepcionar. Talvez esse seja meu mecanismo de defesa num mundo tão ruim.
    Beijo na nádega esquerda,
    Sérgio Almeida.

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  4. Sérgio,
    Não sugeri que você, para exercer a bondade, coloque todos diante de si. Por mais que o egoísmo seja entendido como uma estratégia para a evolução humana, penso que as sociedades se formaram com base na solidariedade. Mas invirta a lógica da solidariedade: na verdade ela não é algo que se busca de modo absoluto; a solidariedade é defendida porque é vantajoso para todos.
    O que me preocupa não é alguém acreditar ou não numa bondade humana natural, e sim o fato de você ser tão jovem e tão niilista, sem disposição para tentar. Quem arrisca pouco, cai pouco, porém também voa mais baixo.
    Ah, e dispenso o beijo na nádega.rs

    Abraço

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Meliante,
    Você estava certo. Dignidade e caráter não tem preço pra algumas pessoas. O mundo não é tão preto ou tão branco como eu imaginava. Azar meu, né? Um dia desses eu ouvia Bob Marley e comentei que uma vez ele fora baleado com o Dênis. Ele fez uma pergunta do tipo: E aí, o que aconteceu com ele?
    Ele se referia a depois do acidente, eu respondi, achando que ele queria saber o que aconteceu com a vida dele: Morreu, Dênis. Tá morto.
    Azar dele, coitado. Mas morreu cumprindo a função dele. Tentando injetar amor e paz pra todos. Quero morrer assim, cumprindo meu papel de passar paz e amor pra todos, pra quem sabe, mudar alguma coisa. Mesmo sabendo que é difícil de mudar.
    Sabe, amanhã tem jogo do Santos. Vai vestido de branco. Ou talvez de preto e branco, mas nunca só de preto. O mundo é assim, não é, Mestre, preto e branco com uma pitada de vermelho?

    O que me intriga é uma coisa, como assim não gostas de Beijos na Nádega Esquerda?
    Abraços, Sérgio.

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  7. Ué, Sérgio, o niilismo passou? Tomara que sim...
    Espero que o Santos joguem melhor do que jogou contra o Palmeiras!
    E não gosto de beijo nem na esquerda nem na direita...rsrs

    Abraço

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  8. Passou sim, mestre. Tudo sempre passa. Vamos ver quanto tempo demora pra essa minha crença passar.
    GRAÇAS AO SENHOR, O SANTOS GANHOU. DEUS É PAI.

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