quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os 14 Pontos

A posição estadunidense até a Primeira Guerra Mundial era de isolacionismo em relação à Europa. Ou, seguindo a orientação de George Washington, um dos chamados "pais" da independência dos EUA, os problemas europeus deveriam ficar entre os europeus. Depois, no começo do século XIX este posicionamento foi atualizado pela Doutrina Monroe. O presidente James Monroe em 1823 afirmou:
Julgamos propícia esta ocasião para afirmar, como um princípio que afeta os direitos e interesses dos Estados Unidos, que os continentes americanos, em virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização por nenhuma potência européia (…)
Não só os problemas europeus deveriam ficar na Europa, como também a América passaria a ser apenas dos americanos. Uma versão polida da máxima "cada macaco no seu galho" aplicado ao mundo da política internacional.
Mas os EUA do início do século XIX não eram os mesmo do final do mesmo século e muito menos do começo do século XX. A consolidação do território e suas fronteiras somado a um incrível processo de industrialização colocaram os EUA em condições cada vez melhores para concorrer com as grandes potências industriais da época: Inglaterra, França e Alemanha. Com a Guerra, então, o cenário ficou ainda mais positivo. Todo mundo oferecendo até a última gota de sangue no conflito armado enquanto os estadunidenses poderiam usar toda sua capacidade produtiva para abastecer os mercados europeu e americano (latino-americano também).

Não confunda este Wilson...
Não por acaso que o presidente Woodrow Wilson, que governou de 1913 a 1921, posicionou-se a favor da entrada dos EUA na Primeira Guerra, a fim de aproveitar o momento e colocar seu país no tabuleiro das relações internacionais. Porém ele não era uma voz unânime.

...com este Wilson

Terminado o conflito Wilson ofereceu ao Congresso estadunidense sua proposta de tratado de paz para levar à Europa. No entanto o texto foi recusado da primeira vez, pois a maioria considerou que feria o princípio de isolacionismo tão defendido nas décadas anteriores. Depois de serem propostas alterações, o texto passou e foi levado à mesa de discussões na europeia.
Basicamente o texto levado é este abaixo. Já o que vingou das boas intensões de Wilson é bem pouco. Em todo caso, ele é considerado o "pai" da Liga das Nações, órgão internacional que antecede a ONU.


1) Inaugurar pactos de paz, depois dos quais não deverá haver acordos diplomáticos secretos, mas sim diplomacia franca e sob os olhos públicos;
2) Liberdade absoluta de navegação nos mares e águas fora do território nacional, tanto na paz quanto na guerra, com exceção dos mares fechados completamente ou em parte por ação internacional em cumprimento de pactos internacionais;
3) Abolição, na medida do possível, de todas as barreiras econômicas entre os países e o estabelecimento de uma igualdade das condições de comércio entre todas as nações que consentem com a paz e com a associação multilateral;
4) Garantias adequadas da redução dos armamentos nacionais até o menor nível necessário para garantir a segurança nacional;
5) Um reajuste livre, aberto e absolutamente imparcial da política colonialista, baseado na observação estrita do princípio de que a soberania dos interesses das populações colonizadas deve ter o mesmo peso dos pedidos equiparáveis das nações colonizadoras;
6) Retirada dos Exércitos do território russo e solução de todas as questões envolvendo a Rússia, visando assegurar melhor cooperação com outras nações do mundo. O tratamento dispensado à Rússia por suas nações irmãs será o teste de sua boa vontade, da compreensão de suas necessidades como distintas de seus próprios interesses e de sua simpatia inteligente e altruísta;
7) Bélgica, o mundo inteiro concordará, precisa ser restaurada, sem qualquer tentativa de limitar sua soberania a qual ela tem direito assim como as outras nações livres;
8) Todo território francês deve ser libertado e as partes invadidas restauradas. O mal feito à França pela Prússia, em 1871, na questão da Alsácia e Lorena, deve ser desfeito para que a paz possa ser garantida mais uma vez, no interesse de todos;
9) Reajuste das fronteiras italianas, respeitando linhas reconhecidas de nacionalidade;
10) Reconhecimento do direito ao desenvolvimento autônomo dos povos da Áustria-Hungria, cujo lugar entre as nações queremos ver assegurado e salvaguardado;
11) Retirada das tropas estrangeiras da Romênia, da Sérvia e de Montenegro, restauração dos territórios invadidos e o direito de acesso ao mar para a Sérvia;
12) Reconhecimento da autonomia da parte da Turquia dentro do Império Otomano e a abertura permanente do estreito de Dardanelos como passagem livre aos navios e ao comércio de todas as nações, sob garantias internacionais;
13) Independência da Polônia, incluindo os territórios habitados por população polonesa, que devem ter acesso seguro e livre ao mar;
14) Criação de uma associação geral sob pactos específicos para o propósito de fornecer garantias mútuas de independência política e integridade territorial dos grandes e pequenos Estados.

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