Sei que o tema fascina muita gente (mais até do que eu, sinceramente, gostaria) e talvez se deva a isso o bom resultado da maior parte dos alunos da 3a. série neste bimestre. O nazismo e a figura de Hitler foram estudados neste bimestre que se encerrou sob uma ótica bem específica: as questões "como foi possível um regime como o nazista surgir na Alemanha?" e "poderia o nazismo ter se estabelecido em outro país na mesma época?" nortearam toda a abordagem. Assistimos ao filme "A Onda", lemos alguns textos, entre eles um de Erich Fromm, enfim, vocês trabalharam bem.
Mas tem sempre alguém que quer ir um pouco mais longe. Então fica aqui uma sugestão de leitura.
Figura esvaziada de Hitler
Mostra na Alemanha levanta a questão se regimes de exceção representam anseios da sociedade
Por Francisco Carlos Teixeira da Silva e Karl Schurster
A exposição "Hitler und die Deutschen: volksgemeinschaft und verbrechen" (Hitler e os alemães: a comunidade do povo e os criminosos), abrigada na chamada Zeughaus, a antiga Casa de Armas do império alemão, no centro histórico de Berlim, teve como principal propósito uma mudança de foco na interpretação sobre o Terceiro Reich. Seguindo a tendência da historiografia contemporânea, que considera como insuficiente tratar o nazismo como obra solitária de Hitler, os organizadores da mostra, que ocorreu do fim de 2010 ao início de 2011, questionaram qual o significado da escolha do Führer pelo povo alemão e por que continuaram a apoiá-lo até 1945. A centralidade do ditador alemão foi deslocada em prol de uma análise mais profunda sobre a “comunidade do povo alemão”, conceito tão difundido durante o nazismo.
A constante preocupação com a identificação das especificidades e diferenças nacionais para explicar os regimes que participaram da Segunda Guerra Mundial nos aproximam do uso da história comparada. Um exemplo disso está posto na antiga tese que explicava o nazismo pelas “peculiaridades alemãs”, sonderweg, o chamado “caminho especial” da história e desenvolvimento alemão, que se preocupou mais com o período imperial do que propriamente com o Terceiro Reich. De acordo com esta interpretação, o nazismo foi um fenômeno único derivado do legado peculiar do Estado autoritário prussiano e do desenvolvimento ideológico alemão, mas sua singularidade se deve, sobretudo, ao personagem Hitler, sendo impossível ignorá-lo, subestimá-lo ou substituí-lo. Esta preocupação, exposta por parte da historiografia sobre a ditadura alemã durante a Guerra Fria, limitou as explicações sobre o nazismo ao Estado e as Instituições, tornando embaçada a visibilidade sobre a efetiva participação do povo alemão durante o regime. Mesmo quando se falou na chamada Historikerstreit (disputa dos historiadores) gerando um grande e importante debate acerca do lugar que ocupa o Terceiro Reich na história alemã (1983-1986), a centralidade do debate estava voltado para a Hitler. O que a exposição “Hitler e os alemães” traz de mais importante não é uma análise dos processos de fascistização da sociedade mediante as ações do Estado Nacional-Socialista, mas, sim a proposição de um processo de fascistização comandado e assumido pela própria sociedade.
(CONTINUA)
Francisco Carlos Teixeira da Silva é professor titular de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor visitante da Technischen Universität Berlin.
Karl Schurster é doutorando em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com estágio de pesquisa na Freie Universität Berlin.
Erik, uma duvida
ResponderExcluirNo texto que voce postou,
"Karl Schurster é doutorando em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com estágio de pesquisa na Freie Universität Berlin. "
O que seria o estudo da Historia comparada?
Krisman,
ResponderExcluirBom saber que você ainda aparece por aqui. Mas vamos a sua dúvida.
História Comparada é, na verdade, uma metodologia. É quase literal, trata-se do estudo comparado de duas ou mais unidades sociais ou políticas, instituições, etc. Tenho uma amiga que estuda a escravidão urbana no Rio de Janeiro e em Havana, ou por exemplo, há um famoso estudo de utiliza a comparação entre as burocracias do Estado Turco pré-revolução e do Brasil Império para entender a construção do aparelho de Estado brasileiro.
Quem gosta muito de história comparada são os norte-americanos. No Brasil se utiliza a história comparada em diversos trabalhos, mas só a UFRJ tem um programa de pós-graduação nesta área (até onde sei!).
Abraço