Acabei de ler na Folha uma notícia sobre uma reunião da bancada do DEM na Câmara. O debate corria solto a respeito do projeto de fim da cela especial para autoridades quando o deputado Julio Campos, do Mato Grosso, se referiu ao Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa como o "ilustre ministro moreno escuro".
Alguém quer apostar que o deputado ainda fez aquele gesto passando o dedo indicador sobre a própria pele? Não vi, mas imagino perfeitamente, igualzinho àquelas senhorinhas do interior ao se referirem aos vizinhos: "Sabe meu vizinho? Então, ele é... (e faz o gesto)".
Obviamente alguns colegas do parlamentar correram para dizer que não viram preconceito algum na expressão e que esta não deve ser analisada fora de seu contexto, mas... qual contexto? O deputado alega que na hora não se lembrava do nome do Ministro. É possível. Então poderia ter dito "qual o nome daquele Ministro negro" ou ainda mais politicamente correto (e às vezes enfadonho) "o Ministro afrodescendente". Mas não disse, preferiu formalizar com "ilustre" a característica "moreno escuro". Agora, olhando assim, tudo escrito, tenho a impressão que "ilustre" é ironia pura. Algo como "o nobre colega falta com a verdade", tão comum entre os deputados que gostariam de dizer simplesmente "o canalha está mentindo".
Teria sido mais honesto se Julio Campos tivesse dito simplesmente "o ilustre ministro que já defende a extinção deste nosso privilégio antidemocrático e anacrônico".
E vocês, rapaziada, ainda não enxergam racismo nas expressões do cotidiano? Ainda acham que uma piadinha é só uma piadinha?
Erik,
ResponderExcluirfazia um tempinho que eu não entrava mais no seu blog..
E por sorte entrei agora, e vi esse seu post!
Essa semana meu prof de redação, do cursinho =/ , pediu para escrevermos com o tema do preconceito!
Mas ele quer que escreva sobre a diferença, entre o preconceito aqui no Brasil (que é 'mascarado') e nos EUA (que é mais notável), qual é pior ..
E até agora não cheguei a nenhuma conclusão .. é um tema com muitas opiniões diferentes, você poderia me ajudar um pouquinho?
Obriigada Erik, estou com saudades de suas aulas! e esse ano, de cursinho, vejo o quanto aprendi com você!
Beeijos Bia
Bia,
ResponderExcluirFiquei muito contente com sua visita e espero conseguir te ajudar em alguma coisa.
Primeiro, sugiro que dê uma olhada na tag "racismo", do blog. Há mais alguns posts a respeito do tema e recomendo especialmente o post "Uma gota...".
Além disso, recomendo que você trabalhe com o as ideias de racismo segregacionista (típico de países como EUA ou África do Sul) - apartar da sociedade tudo que não é considerado positivo para o desenvolvimento da mesma - e democracia racial - mito segundo o qual o Brasil foi palco de uma intensa miscigenação capaz de apagar o racismo, já que todos seriam mestiços.
Mas, tome cuidado. Evite a todo custo juízos de valor que apontem para um racismo melhor e outro pior. Assim como não deixe de considerar que o racismo contra negros (no Brasil e nos EUA) tem íntima relação com nosso passado escravista. Portanto, o negro ainda carrega parte do estigma da escravidão: antes o escravo era inferior ao senhor branco, depois da abolição apenas o estatuto legal mudou rapidamente sem qualquer medida efetiva visando a igualdade racial.
Obviamente o raciocínio está bem simplificado, mas veja se lhe ajuda com seu texto. Qualquer coisa volte aqui.
Beijo
Obriigada Erik,
ResponderExcluirvou ler todos os outros posts para me basear na redação, vi que você colocou coisas novas além desse post no topico racismo.
Você acha que posso dizer que por o Brasil ter sido colonizado pelos Portugueses, e por Portugal estar localizado no continente europeu, que é o continente mais racistas do globo, foram os Portugueses que trouxeram o racismo para o Brasil? E partindo do mesmo pensamento, os Ingleses trouxeram para os Estados Unidos?
Beijos
Bia,
ResponderExcluirVocê só pode dizer que os portugueses são responsáveis pela colonização do Brasil, assim como os ingleses pela colonização dos EUA. Por outro lado, você pode afirmar que os europeus são responsáveis pelo eurocentrismo, que tal?
O que quero dizer é que racismo não é algo exclusivo de um país ou continente. Além disso, por estarmos culturalmente mais próximos da Europa (mentalidade cristã ocidental) acabamos nos "esquecendo" da existência dos outros povos. Como são as relações entre chineses e japoneses? Será que os indianos e os paquistaneses se consideram iguais, ou ao menos humanos de mesmo valor? A xenofobia, por exemplo, é algo quase tão antigo quanto o ser humano. É claro que o racismo que conhecemos deriva do pensamento pseudo-científico ocidental inspirado no evolucionismo. Daí a "necessidade" de estabelecer um ranking dos seres humanos. Se você tiver tempo e interesse faça uma rápida pesquisa sobre um fulano chamado Galton e a eugenia. Creio que vá te ajudar muito.
Quanto à genealogia do racismo no Brasil, podemos dizer que a presença dos portugueses ajuda a entender porque nosso(!?) racismo é diferente do norte-americano. Mas não é uma relação simples, de causa e efeito.
Beijo