Não é a primeira vez que comento sobre a construção de mitos, heróis (ou anti-heróis) e imagens que perduram por séculos. Em todos os casos a construção serve a algum propósito político ou ideológico. Em alguns casos ainda recebe a colaboração de sátiras mais eficientes que os estudos históricos.
Um dos casos mais típicos talvez seja o de D. João VI que nas telas de cinema e na televisão comumente sofreu com a ridicularização. Assim foi com o filme Carlota Joaquina: a princesa do Brasil e com a mini-série "Quinto dos Infernos".
Retratado como covarde por ter "fugido" de Napoleão, casado com uma mulher adúltera e um glutão comedor de frangos: essas são só algumas imagens associadas a D. João no filme de Carla Camurati.
Mas não é bem assim. O hábito de fazer piada com governantes e a, por que não dizer, baixa estima com que costumamos olhar para o nosso passado colaboraram para este mito.
O jornalista e escritor, Laurentino Gomes, autor do livro "1808" oferece uma imagem bem mais favorável do governante português:
"Graças à capacidade de escolher os seus auxiliares e de lhes delegar as tarefas do governo, D. João passou para a história como soberano relativamente bem sucedido, especialmente quando comparado aos seus pares da época, todos destronados, exilados, presos ou mesmo executados pela onda revolucionária francesa."E o próprio imperador francês foi bem mais generoso que normalmente somos com o rei português. Para Napoleão Bonaparte, D. João VI foi
“O único a me tapear em todos os tempos”.
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