Sei que todos os alunos da 3a. série já possuem os textos em mãos, pois estamos discutindo em aula. Mas para os demais interessados e caso alguém queira discuti-los por aqui, replico.
Em sala vimos dois textos, o primeiro de um político francês da virada do século XIX para o XX chamado Albert Sarrout. Suas palavras são interessantíssimas já que escancaram a mentalidade do europeu da Belle Époque. Notem sua visão de humanidade e de riqueza, assim como a noção de progresso.
“(...) A Natureza distribuiu desigualmente no planeta os depósitos e a abundância de suas matérias primas; enquanto localizou o gênero inventivo das raças brancas e a ciência da utilização das riquezas naturais nesta extremidade continental que é a Europa, concentrou os mais vastos depósitos de matérias primas na África e Ásia tropicais e Oceania equatorial, para onde as necessidades de viver e de criar lançariam o elã dos países civilizados. Estas imensas extensões incultas, de onde poderiam ser retiradas tantas riquezas, deveriam ser deixadas virgens, abandonadas à ignorância ou à incapacidade? A humanidade total deve poder usufruir da riqueza total espalhada pelo planeta. Esta riqueza é o tesouro comum da humanidade.”(Albert Sarrout)
O segundo testemunho é de Cecil Rhodes, homem de negócios, político, colonizador e ideólogo do imperialismo inglês na África.
“Ontem estive no East-End [bairro operário de Londres] e assisti a uma assembleia de desempregados. Ao ouvir ali discursos exaltados, cuja nota dominante era ‘pão! pão!’, e ao refletir, de regresso a casa, sobre o que tinha ouvido, convenci-me, mais do que nunca, da importância do imperialismo... A ideia que acalento representa a solução do problema social: para salvar os 40 milhões de habitantes do Reino Unido de uma mortífera guerra civil, nós, os políticos coloniais, devemos apoderar-nos de novos territórios; para eles enviaremos o excedente de população e neles encontraremos novos mercados para os produtos das nossas fábricas e das nossas minas. O império, sempre o tenho dito, é uma questão de estômago. Se quereis evitar a guerra civil, deveis tornar-vos imperialistas”.(Cecil Rhodes)
Charge de Cecil Rhodes representando seu ambicioso plano de construir uma linha férrea do Cairo à Cidade do Cabo |
Estes dois textos, na verdade, duas falas de homens do século XIX, expressam bem os pilares básicos da mentalidade imperialista e suas justificativas. Podemos ver a necessidade de matéria prima e de mercado consumir, o excedente populacional europeu e argumento racista segundo o qual os africanos e asiáticos não poderiam ser "donos" de tantas riquezas naturais.
Quanto a este pensamento racista, há outra citação de Cecil Rhodes que é imensamente esclarecedora:
"Considerei a existência de Deus e decidi que há uma boa chance de que ele exista. Se ele realmente existir, deve estar trabalhando em um plano. Portanto, se devo servir a Deus, preciso descobrir o plano e fazer o melhor possível para ajudá-lo em sua execução. Como descobrir o plano? Primeiramente, procurar a raça que Deus escolheu para ser o instrumento divino da futura evolução. Inquestionavelmente, é a raça branca… Devotarei o restante de minha vida ao propósito de Deus e a ajudá-lo a tornar o mundo inglês."
Por fim, recomendo que vocês leiam também os posts antigos sobre Imperialismo AQUI.
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