sexta-feira, 27 de maio de 2011

Tempo de recriar

Definir "revolução" não é tarefa fácil e muitas (mas muitas mesmo!) foram as páginas gastas para buscar uma definição deste conceito. O que não levanta dúvida é o reconhecimento da Revolução Francesa como autêntico movimento revolucionário! Não por causa da duração, ou pela violência, ou pela morte de um rei e de tantos outros opositores, mas porque a Revolução Francesa foi responsável por mudanças profundas no corpo político e social, e também porque evidenciou-se ali um desejo de criar algo novo, de recriar a França dos e para os franceses.
É claro que muito desse desejo não frutificou, ou tendo sido implantado foi, depois, descartado. Contudo, os revolucionários, especialmente em sua fase mais radical, carregavam a sensação de estavam colaborando para a construção de um novo tempo, que o longo inverno regido pela opressão e pelo atraso estava acabando. Herdeiros das críticas iluministas, carregavam as bandeiras da felicidade, do sucesso individual e do progresso como metas para todos. E nada mais poderoso, mais simbólico e mais... difícil de fazer que mudar o calendário!
Alegoria do mês Brumário
A lógica parece simples: se o mundo é novo precisa-se de uma nova forma de medir o tempo. O Calendário Revolucionário Francês ou, simplesmente, Calendário Republicano, foi aprovado pelo governo da Convenção em 1792 e pretendia apagar as lembranças do Antigo Regime e a influência do clero. Para isso pretendia acabar com as datas religiosas e com as referências a santos. Além disso cada mês teria outro nome e mesmo outra periodização. O primeiro mês começaria com o outono, ou seja, em 22 de setembro. Cada mês teria 30 dias e os dias que restariam (30 x 12 = 360 dias), seriam feriados nacionais. Para ser mais universal e sem qualquer sinal de religiosidde, optou-se por nomes que fizessem referência às características das épocas do ano. Assim,  o primeiro mês chamava-se vindário ou vindimiário (de vindima = colheita de uvas), seguiam-se o brumário (de bruma ou nevoeiro), o frimário (mês das geadas ou frimas, em francês), o nivoso (tempo de neve), o pluvioso (chuvoso), o ventoso, o germinal (relativo à germinação das sementes), o floreal (ou das flores), o pradial (em referência a prados), o messiador (originário de messis, palavra latina que significa colheita), o termidor (referente ao calor, como em "térmico") e o frutidor (relativo aos frutos e a frutificação).

Outono:
Alegoria do mês Germinal
Vindimiário (vendémiaire): 22 de setembro a 21 de outubro
Brumário (brumaire): 22 de outubro a 20 de novembro
Frimário (frimaire): 21 de novembro a 20 de dezembro

Inverno:
Nivoso (nivôse): 21 de dezembro a 19 de janeiro
Pluvioso (pluviôse): 20 de janeiro a 18 de fevereiro
Ventoso (ventôse): 19 de fevereiro a 20 de março

Primavera:
Germinal: 21 de março a 19 de abril
Florial (floréal): 20 de abril a 19 de maio
Pradial (prairial): 20 de maio a 18 de junho

Verão:
Messidor: 19 de junho a 18 de julho
Termidor (thermidor): 19 de julho a 17 de agosto
Frutidor: 18 de agosto a 20 de setembro.

Como o Calendário Revolucionário era solar, facilitava apenas na hora de conversar sobre signos. O mês praticamente bate com o zodíaco! Em todo caso, este calendário vigourou apenas de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805, quando Napoleão Bonaparte ordenou o retorno ao calendário Gregoriano. Talvez se isso não tivesse acontecido (e se Napoleão tivesse vencido) hoje eu diria que meu aniversário é em 14 Pradial!

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