Lembro-me exatamente desta capa |
Este livro de Stevenson é um clássico e um livro "fundador". Escrito em 1883 coloca no mesmo barco (literal e metaforicamente) um garoto e piratas. Além disso, "inventa" para a literatura o esteriótipo do pirata com tapa-olho, gancho, perna de pau, papagaio, etc, e o mapa do tesouro com um X no local a ser cavado. Porém, já para Stevenson a pirataria era algo distante, pois seu ápice foi na Idade Moderna, entre os séculos XVI e XVII e, especialmente, na região da América Central.
A pirataria marítima é algo consideravelmente antigo. Se a definirmos como saque ou pilhagem de embarcações e cidades por navios fora do contexto de uma guerra entre países e com o único objetivo de enriquecimento rápido, poderemos ver a pirataria praticada pelos gregos, fenícios e romanos no Mar Mediterrâneo, durante a Antiguidade. Depois, durante a Idade Média, teremos piratas muçulmanos na mesma região, assim como tivemos indianos e chineses no Oceano Índico.
Na verdade, a pirataria não depende muito da época ou do local. Fundamental é a existência de rotas comerciais extremamente lucrativas e uma brecha que permita a existência de um mercado paralelo, clandestino.
Com a descoberta da América e a colonização do continente, especialmente pelos espanhóis, mas depois também por ingleses, franceses e holandeses (região do Caribe e Antilhas), o fluxo comercial para a Europa era enorme. Em plena lógica mercantilista, o esforço da colonização tinha como intuito enriquecer as metrópoles, de modo que os produtos (com destaque para os metais preciosos) e os impostos deveriam ser remetidos para o outro lado do Atlântico. Do mesmo modo, seguindo o entendimento segundo o qual o entesouramento de metais preciosos, conhecido por metalismo, era a melhor forma de enriquecer um país, a ideia de "tesouros" torna-se uma obviedade.
"Piratas do Tietê", do Laerte, meus preferidos. |
O que não se esperava era a volta da pirataria. Em uma entrevista de 2010 na Folha de S. Paulo, o historiador britânico Eric Hobsbawm foi perguntado sobre que eventos do século XIX foram absolutamente imprevisíveis. Entre diversas coisas que não esperava ver no novo milênio Hobsbawm citou a volta da pirataria no Oceano Índico, nas costas da Etiópia e da Somália. Por que a pirataria voltou e por qual motivo justamente ali?
A lógica é quase a mesma. Olhando no mapa veremos que aquela região é a rota que liga a Europa à Ásia pelo Canal de Suez concentrando as mais valiosas transações comerciais. Em terra, governos frágeis e muitas vezes com crises de continuidade (golpes, grupos rebeldes, etc.) e falta de Forças Armadas organizadas tornam os navios cargueiros de diversos países presas fáceis. Mas esqueçam os piratas de Stevenson, no século XXI não veremos mais barcos a vela, espadas ou papagaios. E o glamour... nem pensar.
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