sábado, 30 de outubro de 2010

Se exercitar faz bem: As Respostas

Vocês devem ter reparado que as 3 questões que postei não são examente de história. Ou pelo menos não são apenas de história!

A questão 1 envolve um pouco de História Antiga e muito de interpretação de texto. Era importante prestar atenção na oposição "povo" e "indivíduo", ou ainda entre coletivo e individual. No caso grego, é bom lembrar que o exercício coletivo da política se dava por meio de assembléia que quer dizer justamente "reunião de pessoas". Enquanto que a dominação individual é tirania, poder absoluto de um sobre outros. Ou, quando o poder é de alguns poucos (oligo = poucos) sobre a maioria, chama-se oligarquia. O texto defende, na verdade, a democracia.
Resposta D

A questão 2, por sua vez, mistura História Medieval e atualidades. Porém o que interessa mesmo é sua capacidade de comparar dois tempos e duas situações buscando semelhanchas e diferenças. No texto sobre a Idade Média o problema da fome é encarado como um castigo divino e a solução seria a penitência. Já no texto atual, as enchentes e os desabamentos estão ligados ao fato de não terem sido aplicados os recursos destinados a evitar esse tipo de catástrofe. De modo que qualquer alternativa que tente comparar as soluções estará errada, pois é impossível.
Resposta B

A questão 3 é pura leitura de tabela. Você precisa analisar cada coluna e tentar extrair os padrões. Na prática você pode até tentar desenhar gráficos para cada uma das colunas da tabela. No entanto, é necessário ficar atento às informações que você tem e às que a questão lhe dá. É esperado que o candidato saiba o que aconteceu no Brasil entre 1940 e 1996 (melhoria de vida, industrialização, migrações campo-cidade, etc) e alguns conceitos de geografia, como esperança de vida, taxa de natalidade, mortalidade infantil, regime demográfico.
Resposta B

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Vestibular UNESP

Quem vai prestar vestibular para a Unesp (estadual paulista) já pode conferir onde fará a prova da primeira fase, que acontece no dia 14 de novembro, em 30 cidades de São Paulo, além de Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande e Curitiba.
(Folha de S. Paulo)

A listagem dos locais das provas está na reportagem da Folha e no site da Vunesp.

Se exercitar faz bem

Senhores,
Temos menos de 10 dias até o ENEM. Sim, falta pouco para o pessoal da 3a. série mostrar o que aprendeu ao longo de três anos. Isso se não der nenhum pepino de última hora no exame. Mas, para todo mundo ficar mais ou menos em forma para o grande dia vou postar alguns exercícios que seguem o mesmo modelo, porém foram feitos para outra prova.
O estilão ENEM está tão na moda que o vestibular deste ano para a Academia do Barro Branco, da Polícia Militar de São Paulo, desenvolvido pela Vunesp foi mais ou menos na mesma receita. Seguem algumas questões.

ATENÇÃO! Quando falamos em ENEM estamos pensando em questões que pedem na maior parte das vezes leitura atenta, interpretação de texto e interdisciplinariedade. Ou seja, use todas as informações ao seu alcance, mas preste MUITA atenção no enunciado, nos textos, imagens, etc.

Questão 1:
O povo, em muitas coisas, julga melhor do que o indivíduo, seja quem for. Além disso, a multidão é mais incorruptível (...) e, se um indivíduo se deixa dominar pela ira ou por outra paixão semelhante, necessariamente corrompe o seu juízo; em compensação, é difícil que todos juntos se inflamem de cólera ou pequem.
(Aristóteles, 384-322 a.C. Política.)
As considerações do filósofo grego permitem afirmar que

(A) o pensamento antigo era de natureza mítica, porque se apoiava em explicações de caráter sobrenatural.
(B) o despotismo esclarecido surgiu no período greco-romano e foi retomado pelos soberanos da época moderna.
(C) a doutrina demagógica, criada por Aristóteles, forneceu os fundamentos para a política de pão e circo.
(D) o poder político, em vez de ser exercido por um tirano ou uma oligarquia, deveria caber a uma assembleia.
(E) as disputas entre as cidades gregas foram causadas por indivíduos que não seguiram os conselhos dos filósofos.

Questão 2:
Conservamos a narrativa de uma crise de fome que ocorreu em 1033, na Borgonha. (...) O cronista teria afirmado (...) que a solução era fazer penitência. O céu enviava esse flagelo, era preciso aplacar a cólera de Deus e prostrar-se diante Dele, lamentar seus próprios pecados.
(Georges Duby. Ano 1000 ano 2000, na pista de nossos medos.)

Estado que vive uma tragédia por causa das chuvas, com 29 mortes confirmadas até agora, Alagoas não recebeu um centavo sequer do governo federal para programas de prevenção. Os dados constam de levantamento da ONG Contas Abertas. Os repasses para Pernambuco – que também contabiliza 12 mortos, milhares de desabrigados e desalojados – correspondem a 0,24% (R$ 172 mil) do total previsto para prevenção. O Rio de Janeiro, que foi atingido pelas chuvas em março e abril, figura como último da lista de contemplados, com R$ 10,6 mil, ou 0,02%.
(O Globo, 23 de junho de 2010. Adaptado.)
A partir dos textos, pode-se concluir que
(A) os avanços tecnológicos ainda não permitem que a produção agrícola alimente todos os seres humanos.
(B) a maneira de encarar as causas dos problemas informa sobre a concepção de mundo vigente nas sociedades.
(C) explicações de fundo religioso continuam a nortear a apreensão contemporânea sobre as dificuldades humanas.
(D) a má distribuição de renda é a causa dos problemas mencionados, tanto nos dias atuais como na Europa medieval.
(E) na Idade Média não se contava com cálculos precisos, o que explica a baixa produtividade das terras e a fome.
 
Questão 3:
 
(Hervé Thery. "Retrato Cartográfico e Estatístico." In: Paulo Sérgio Pinheiro, et alli. Brasil: um século de transformações.)

A partir dos dados, pode-se afirmar que
(A) as alterações observadas nos índices sociais ocorreram independentemente das condições econômicas do país.
(B) o regime demográfico conheceu alterações profundas, como indica a queda do número de filhos por família.
(C) no conjunto, observa-se tendência à estagnação dos índices, a partir dos anos 1980.
(D) o analfabetismo mostrou-se inalterável ao longo do período e continua a ser um dos desafios do país.
(E) a mortalidade infantil, que não caiu de modo expressivo no período, exige atenção das autoridades sanitárias.



As respostas estarão disponíveis para conferência em mais ou menos dois dias, no sábado à tarde. Fiquem à vontade para responder nos comentários.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ah, a internet...

A internet acaba oferecendo algumas coisas curiosas. O Wallace acabou de me enviar um video do youtube com uma daquelas músicas que o Marcelo Adnet faz na MTV. O cara é bom, mas o tema escolhido é espinhudo. Numa proposta insana, Adnet decidiu fazer um RAP (?) com todos os presidentes do Brasil. As informações não estão erradas e o encadeamento está até mais detalhado do que se espera para 7min20s de música. Afinal, eu preciso de quase 2 bimestres para dar conta de tudo isso!
Porém, na internet tudo pode sofrer mudanças e a música do Adnet ganhou imagens de algum blogueiro. Infelizmente a colagem de imagens não é grande coisa e há imagens anacrônicas, ou seja, de períodos que não correspondem ao cantado. No mais, vale a diversão.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Qual o teu sonho?

Pense bem no que você deseja. Ser o único candidato em um processo seletivo? Ter um emprego respeitado? Assumir um cargo de chefia antes de ter 21 anos e sem ter sido estagiário?
Com vocês: Marisol Valles, mexicana de 20 anos, estudante de criminologia (sabe-se lá o que é exatamente isto!) que assumiu o cargo de Chefe de Polícia de sua cidade natal - Praxedis Guadalupe Guerrero - de 10mil habitantes.
Ok, são apenas 10mil moradores e muitos bairros de São Paulo são maiores que o povoado de PGG. Mas, maaaas... "o local é castigado pela violência E fica em uma das passagens mais usadas pelos cartéis para levar drogas aos Estados Unidos" E o prefeito foi assassinado em junho.
Lembra daqueles desenhos do Pica-Pau em que niguém quer ser xerife porque o temido Zeca Urubu vai atacar a vilarejo? É mais ou menos a mesma coisa. O desespero é tanto que uma jovem estudante e mãe de um recé-nascido topou o emprego. Parece que nem o Zorro aceitou o cargo!

Esta notícia um tanto quanto bizarra foi lida AQUI.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tá chegando

Faltam apenas 16 dias para o





Dúvidas sobre formato da prova, duração, calendário, etc? Veja no SITE OFICIAL.

Aviso do site:
Atenção! Cartão de confirmação de inscrição chegará entre 4 e 25 de outubro. Resultados da prova serão divulgados até 15 de janeiro de 2011.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vi e lembrei de você...

Fim de ano chegando, último bimestre e o fantasma do exame começa a rondar.
Pelo jeito isso é mais comum do que eu pensava, afinal até a Folha de S. Paulo resolveu escrever a respeito. Mas não no caderno dedicado à educação, mas no Folhateen.

Ainda dá tempo de recuperar as notas e evitar a reprovação na reta final; confira as dicas


Sinceramente, acho que toda ajuda é válida. O que não vale é ter de repetir o ano...

História e Saúde

No sábado, dia 16, saiu na Folha de S. Paulo uma matéria a respeito de doenças e epidemias no Brasil Colonial. Na verdade se tratava da divulgação do livro Doenças e Curas de uma médica especializada em história da medicina chamada Cristina Gurgel. A temática não é exatamente nova, mas é sempre interessante ter um outro olhar sobre questões já mais ou menos conhecidas. Todos sabem, por exemplo, que epidemias devastaram as populações nativas da América e que os europeus não eram exatamente um primor em higiene. No entanto, analisar estas questões pelo olhar da medicina é, sem dúvida, enriquecedor. Não li o livro, mas fiquei curioso.

Hábitos insalubres tornaram Brasil Colônia grande foco de epidemias, mostra livro
Não raro, no Rio de Janeiro, em Salvador ou em qualquer outro núcleo urbano brasileiro colonial, um pedestre era "abatido" por excrementos humanos voadores enquanto seguia pela rua.
Não havia esgoto, e o hábito era jogar o resíduo pela janela mesmo. As ruas, claro, não ficavam exatamente limpas, e se tornavam bastante insalubres. Não tendo o país nenhuma faculdade de medicina, doenças contagiosas chegavam e ficavam sem enfrentar grande resistência.
Mesmo em 1799, já muito perto do fim da colônia e da chegada da família real portuguesa em fuga para o Brasil, o país, com cerca de 3 milhões de habitantes, não tinha mais de 12 médicos formados --todos importados.
Em Portugal (como no resto da Europa) também existia o hábito pouco higiênico de defenestrar fezes humanas, mas por lá, pelo menos, a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra já formava gente desde 1290 --outros países europeus também já tinham escolas médicas.

No caso brasileiro, a única solução era improvisar.
"No Brasil Colônia, então, formou-se uma pequena multidão de curandeiros, benzedeiras e rezadores que tentavam suprir a absoluta carência de profissionais habilitados", diz Cristina Gurgel, médica da PUC de Campinas que é especialista em história da saúde.
Ela está lançando o livro "Doenças e curas: o Brasil nos primeiros séculos", pela editora Contexto. Nele, ela lista doenças que se propagavam com facilidade na época, como varíola, hanseníase, malária e sarampo, além de constantes disenterias.
Por isso, a expectativa de vida dificilmente passava dos 30 anos. Crianças também eram vítimas fáceis: no século 17, por exemplo, apenas uma em cada três crianças nascidas no Nordeste conseguia sobreviver.
Até existiam alguns hospitais, como as Santas Casas, mas eles eram mantidos muito mais pelos religiosos do que por médicos.
(Continua AQUI)
(Leia também: Com higiene precária, navios não eram para narizes delicados)

A reportagem acima, de Ricardo Mioto, começa com uma cena bem curiosa: o risco de as pessoas serem atingidas por escrementos humanos. Antes da existência de esgoto encanado tudo ia para o penico e do penico ia para... qualquer lugar fora de casa. Poderia ser a rua, sim. E este hábito não terminou com a Independência. Durante o Brasil Império ainda poderia acontecer, mas surgia também outra figura, os "tigres". Eram escravos (sempre eles!) encarregados de levar os escrementos da casa até o lugar "apropriado", em geral rios ou praias. Como as fezes respingavam sobre a pele do escrava e o deixavam rajado, ganhava o apelido de tigre.
 
Leia mais:
Cuidado com o tigre!
Bichos mortos nas ruas, dejetos atirados ao mar, doenças se propagando: o insalubre cotidiano da capital pernambucana nos tempos do Império

O artigo da Revista de História da Biblioteca Nacional trata principalmente do Recife, mas de modo geral se aplica também ao Rio de Janeiro, Salvador e demais capitais do Brasil Império.

domingo, 17 de outubro de 2010

Exposição em Santos

O café se manteve como principal produto da pauta de exportações do Brasil até meados da década de 1970. Sim, apesar de lembrarmos sempre do café no Brasil Império, no Estado de São Paulo e seus imigrantes e na chamada "Política do Café com Leite", o peso do ouro verde na economia brasileira manteve-se inquestionável por quase 150 anos. Mas é claro que isso não se fez por acaso, havia interesses variados e a ação dos cafeicultores, comerciantes e governantes em geral. É justamente esta trajetória ao longo do século XX, entre o Convênio de Taubaté (1906) e o fim do Instituto Brasileiro do Café (1990), o alvo da exposição A Defesa do Café faz História.
Quem estiver em Santos, no Museu do Café, aproveite e confira meu trabalho de pesquisa, redação de textos e produção.
Inauguração no dia 21 de outubro (quinta-feira), às 18h.


Palácio da Bolsa Oficial de Café
Rua XV de Novembro nº 95, Centro - Santos - SP
Telefone: (13) 3213-1750

Horários:
Terça a Sábado - das 09h às 17h
Domingo - das 10h às 17h
Fechamento da Bilheteria: 16h15

Ingressos:
Inteira: R$ 5,00
Meia: R$ 2,50

Resposta óbvia

Tem pesquisa que é feita para se descobrir algo realmente novo. O pesquisador tem uma hipótese e precisa verificar se ela faz sentido ou não. E não é raro o pesquisador chegar à conclusão que a hipótese não se sustenta. Porém, há casos em que é necessário apenas comprovar com dados aquilo que todo mundo já tem como óbvio. Por que? Porque tem gente que só acredita em números e dados estatísticos, ou porque é necessário calar a boca de grupos de interesses.
Este é, provavelmente um desses casos.

Cursos ruins atraem vestibulandos pelo preço baixo, conclui estudo

Alguém tinha dúvida a respeito disso? Não. Mas a UNIP não vai gostar de saber que "o estudante Leandro Gomes da Silva, 23, escolheu cursar direito na Unip pelo valor da mensalidade - R$ 600 - e a proximidade do campus com seu trabalho, na zona sul de São Paulo." E "ele não sabia que o curso tinha nota baixa no exame federal de qualidade". Triste é pensar que este rapaz provavelmente está fazendo o seu melhor e vai acabar, a despeito de seu esforço, penando no mercado de trabalho.
Mas não acaba por aí. Interessante mesmo é que o estudo identificou ainda um suposto paradoxo: "os cursos particulares de administração e direito reprovados no exame federal (notas 1 ou 2 no Enade) tiveram aumento de candidatos no vestibular". Ou seja, o raciocínio do Ministério da Educação segundo o qual a divulgação das notas baixas iria servir de contra-propaganda não está dando certo.
Apesar por coerência, ofereço um palpite também óbvio: as notas baixas não superam fatores como falta de grana e necessidade de continuar os estudos.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia do...

Hoje é Dia do Professor. Bateu a vontade de dizer "e daí?", mas achei que seria muito insensível da minha parte. Apesar de achar a maior parte das datas comemorativas uma mera estratégia de vendas - Dia das Mães, dos Pais, das Crianças, etc - o mesmo não parece acontecer com o Dia do Professor. Até onde eu sei não há aumento da venda de maçãs... No entanto, não sou dado a manifestos ou lamentações para gastar a paciência de vocês com um longo texto sobre a importância da educação e dos professores, ou como está a situação da educação no Brasil. Poderão ler em qualquer jornal.
Só queria compartilhar com vocês o meu espanto ao buscar na internet um calendário com as datas comemorativas. Tem data para tudo!! T-U-D-O! Tanto que nem tenho como reproduzir aqui. Então, vamos ver uma semana, 5 dias úteis a partir do dia 11 de outubro.
11 - Dia do Deficiente Físico e Dia do Teatro Municipal
12 - Dia de Nossa Senhora Aparecida, Dia da Criança, Dia do Atletismo, Dia do Basquete, Dia do Futebol, Dia do Engenheiro Agrônomo, Dia do Mar, Dia do Descobrimento da América e Dia do Corretor de Seguros.
13 - Dia do Terapeuta Ocupacional e Dia do Fisioterapeuta
14 - Dia Nacional da Pecuária
15 - Dia da Educação Nacional e Dia do Professor
Pelo amor de deus, alguém me diz porque existe um Dia do Mar???? Ou o que significa Dia do Teatro Municipal!? Então o Teatro Estadual tem outro dia? Eu espero que isto esteja errado, que seja apenas uma brincadeira rodando na internet.
Sabe, já me sinto melhor com o Dia do Professor! Parabéns a todos os meus colegas!

P.S. Ironicamente a única data que parece sincera é o 1o. de Abril...

A II Guerra onde menos se espera

Nesta "semana do saco cheio" resolvi ler alguma coisa que não me fizesse lembrar de escola, trabalho ou estudos particulares. Então peguei Eu sou Ozzy na estante. Sim, é a autobiografia de Ozzy Osbourne, lenda do havy metal, vocalista original do Black Sabbath e, recentemente, famoso por causa de um reality show. O livro é hilário, pois o Ozzy é quase a personificação da piada. Ele não se leva a série e não considera nada digno de seriedade. O problema é que não consegui ficar sem lembrar da sala de aula. Logo nas primeiras páginas, quando ele comenta sua infância, Ozzy conta que:
Como muitos tanques, caminhões e aviões foram feitos nas Midlands durante a guerra, Aston foi muito atacada durante a Blitz. Em cada esquina, quando eu era criança, havia "lugares bombardeados" - casas que tinham sido destruídas pelos alemães quando estavam tentando acertar a fábrica Castle Bromwich Spitfire [avião de ataque inglês]. Durante anos, achei que "lugares bombardeados" era o nome que se dava aos playgrounds.
Birmingham bombardeada durante a II Guerra
Ozzy nasceu no ano de 1948 em Aston, suburbio de Birmingham, polo industrial no centro da Inglaterra. A guerra havia acabado em 1945, mas suas marcas permaneceram por longos anos, década de 1950 a dentro.
A II Guerra, ainda mais que o coflito anterior, tornou comum o bombardeio de áreas civis. Cidades inteiras foram bombardeadas, especialmente as que apresentavam grande concentração industrial. Logo no primeiro avanço alemão, a intenção era neutralizar o poder de resposta do mais forte adversário europeu, a Inglaterra. Assim, a Blitzkrieg, ou Guerra Relâmpago, buscava ao mesmo tempo avançar sobre a Bélgica, Holanda, França, Noruega e Dinamarca, e bombardear os centros urbanos ingleses. Depois, a mesma lógica foi utilizada pelos Aliados contra os nazistas quando da ofensiva a partir de 1943.
A cidade alemã de Dresden foi quase completamente destruída

O resultado foi um continente altamente devastado após o fim do conflito: cidades destruídas, populações massacradas e economia totalmente desorganizada. No entanto, a complexa conjuntura pós-guerra com o surgimento da Guerra Fria exigia que a Europa Ocidental se reconstruísse rapidamente a fim de fazer frente ao bloco oriental e comunista comandado pela URSS. A saída foi o Plano Marshall colocado em prática pelos EUA em 1947: a ideia era emprestar enormes quantias de dinheiro com condições de pagamento a longo prazo para afastar de vez os fantasmas da fome, do desemprego e... do comunismo, sempre esperando o apoio popular.
Até 1952, outros países europeus ocidentais necessitados receberam adubo, matérias-primas, combustíveis, máquinas e medicamentos no valor aproximado de 13 bilhões de dólares. (Para ler mais clique AQUI)
Cartaz do Plano Marshall buscava unir a Europa Ocidental
Vejamos o que foi contado por Ozzy. Sua infância foi ao menos até o início de 1960, e ainda assim havia "lugares bombardeados". É claro que o Plano Marshall não resolveu todas as questões, cicatrizes permaneceram por muito tempo na memória e nas cidades europeias, mas certamente teria sido pior sem esta ajuda emergencial.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Um texto antigo

Em 2008 eu escrevi um pequeno texto sobre música e estudos musicais, mas poderia ser um texto apenas sobre estudo, de forma ampla. Como acredito que o texto continua válido, resolvi posta-lo aqui sem mudar muita coisa.

Espontâneo e com estudo
Ontem estava conversando com um amigo que, assim como eu, adora música. Com a diferença que ele é músico, e não apenas um ouvinte curioso.

Papo vai, papo vem, nos vimos conversando sobre post-rock. Depois do usual "você conhece tal grupo?" e "já ouviu tal projeto?" discutimos a falta de uma cena post-rock brasileira. Temos alguns bons grupos como Hurtmold ou Constantina, mas acho que não conseguiríamos listar dez desse tipo. A conclusão foi que músico brasileiro não estuda, e pra tocar post-rock precisa estudar.
Naquele mesmo dia eu tinha comprado a Rolling Stone (n.17), mas não tinha tido tempo de ler. Dentro tinha uma pequena entrevista com Gilberto Gil. Li a seguinte declaração:
Sempre fui desencorajado pelos mestres que tive. Me disseram: Não estude música, não faça escola, você é uma espontâneo, um intuitivo. Se você for pra escola, o risco é muito grande que você se perca naquelas opções acadêmicas.

Eric Satie (1866-1925)

Na hora pensei com meus botões, vivemos num país engraçado. O suposto talento nato é hipervalorizado e o estudo é posto em suspeita. Mas o mais curioso é que parece ter uma diferenciação. Música clássica, jazz, blues, choro e bossa nova exigem estudo; rock, samba, pagode ou qualquer pop não exige; e MPB estuda quem quer. Ou seja, viva o Naïf, viva a música com cara de artesanato hiponga, viva a composição com jeito de escultura de durepoxi vendida na Praça da República.
Só pra ilustrar o oposto um pouquinho da história de um precursor: Eric Satie. Considerado o pai da música ambiente e influenciador da música minimalista, Satie também foi um pianista de segunda ordem e dono de uma figura rock-star antes do rock: gostava mais do cabaré que da sala de concertos. Como todo artista de final de século XIX e início de XX entrou em um conservatório de música ainda adolescente. Sem grande futuro como pianista e consciênte disso, passou a compor pequenas peças para piano, músicas de 5 minutos ou menos. Bem diferente de seu amigo Claude Debussy, grande compositor nos moldes da época. Aos 40 anos Satie resolveu voltar a estudar porque achou que deveria se aprimorar, afinal continuava se achando mediano. Alguma opção acadêmica o prejudicou? Parece que não...

Talento é ótimo, mas estudo ainda é melhor.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Questão comentada

Ao selecionar questões para o simulado da 2a. série me deparei com esta questão do vestibular da Unesp de 2006. Sinceramente, uma questão nada simples e, por isso, merecedora de um comentário mais atento.


(...) a Revolução de 1789 não fez nada pelo operário: o camponês ganhou a terra, o operário está mais infeliz que outrora e os monarquistas têm razão quando afirmam que as antigas Corporações [de Ofício] protegiam melhor o trabalhador do que o regime atual.(Jornal Le Matin, 7 de março de 1885.)
Com tal declaração, o escritor francês Émile Zola fazia um balanço dos efeitos sociais da Revolução de 1789, referindo-se A. aos confiscos dos bens dos nobres franceses emigrados e à política liberal implementada pelo Estado.
B. à baixa participação dos trabalhadores urbanos nas lutas sociais na França do final do século XIX.
C. ao apoio dos operários ao projeto de Restauração do absolutismo francês, como garantia de melhoria social.
D. à liderança política dos camponeses franceses nas revoluções socialistas e comunistas do século XIX.
E. à política de bem-estar social instituída pelo Partido Social Democrata francês ao longo do século XIX.

Como diria o esquartejador, vamos por partes.
Primeiramente, ao ler a citação oferecida no enunciado precisamos responder algumas questões. De cara é necessário notar que há uma diferença entre o momento da "fala" e a época referida. Zola escreve no jornal em 1885 comparando aquela época à Revolução de 1879. Ou seja, trata-se de um balanço entre as conquistas da Revolução Francesa e as dos movimentos populares e operários do século XIX, especialmente os de 1848 e a Comuna de Paris de 1871. Portanto, temos também neste cenário a questão do trabalho fruto da industrialização.
O escritor Émile Zola (lê-se ZolÁ) foi o grande expoente do naturalismo francês e especialmente envolvido com a causa dos trabalhadores, tendo escrito em 1885 sua maior obra, Germinal, sobre os trabalhadores das minas de carvão e fortemente influenciado pelas ideias marxistas. Aliás, são as ideias comunistas, especialmente as de Karl Marx que fariam a diferença no século XIX ao oferecer ao proletariado urbano a perspectiva de interferir na sociedade, primeiramente pela via eleitoral e depois revolucionariamente.
A história francesa foi marcada por um movimento pendular, ora com grande participação popular, ora com grande controle autoritário por parte dos segmentos mais conservadores. Temos, então, a participação dos sans-cullotes na Revolução Francesa, seguida de uma maior presença da burguesia até a restauração da monarquia coma derrota de Napoleão. Depois da onda de fome ocorrida na década de 1840, levantes populares em 1848 levaram ao retorno da República, superada pelo golpe do sobrinho de Napoleão eleito presidente ao se declarar Imperador, com o nome de Napoleão III. Seu governo só se encerrou com a derrota da França para os alemães na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). Então novo levante popular deu origem à Comuna de Paris, movimento restrito à capital francesa onde todos os cargos públicos foram ocupados por representantes eleitos, desde vereadores até professores públicos. Mas a Comuna não sobreviveu à violenta repressão.
O pensador alemão K. Marx

Mas por que Zola compara os camponeses de 1789 aos operários de 1885? Com o fim dos privilégios feudais e da Igreja com a Revolução Francesa, houve uma relativa reforma agrária ao mesmo tempo que o trabalho no campo não chegou a sofrer mudanças tão drásticas como na cidade. O desenvolvimento industrial, por sua vez, acabou com o trabalho artesanal e as Corporações de Ofícios, reunião de artesão que controlavam regiões e garantiam ganhos mínimos. O trabalho nas fábricas e a massa de desempregados gerou grandes mudanças urbanas, causando a piora das condições de vida. Foi justamente por isso que as ideias revolucionárias de Marx ganharam tanta força ao longo do século XIX culminando na Comuna de Paris. A Revolução Francesa, enquanto Revolução Burguesa e, logo, Liberal, estimulou o capitalismo e, como efeito colateral, a desigualdade social.
A resposta da questão é, portanto, a letra A
Dúvidas?
 
Hino da Internacional Comunista entoado pelos participantes da Comuna e imagens referentes ao movimento parisiense.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Contagem regressiva

Faltam 31 dias para o











Ok, confesso, sempre quis fazer isso!!

Vai que...

Ao velho ditado da vovó que garante que "o seguro morreu de velho" eu somo a "filosofia-do-vai-que...". Para quem não conhece, esta filosofia de vida é muito simples e muito versátil podendo ser aplicada a quase tudo. Como não sou exatamente um teórico vou explicar no contexto de um exemplo. No último post eu comentei as apostas de temas para o ENEM que o jornal O Estado de S. Paulo publicou no dia 4 de outubro. Eu, sinceramente, prefiro imaginar que o pessoal do ENEM não é assim tão óbvio ou previsível. Mas, aí é que entra o princípio do qual falei no começo. Vai que os pessoal acerta a previsão, e aí? Serei o único a não orientar meus alunos? Iria ser bem feio...
Portanto, fui procurar algo a mais para vocês lerem, verem e ouvirem.
Já comentei há algum tempo que a Univesp (Universidade Virtual de São Paulo), ligada ao Governo do Estado edita uma revista virtual mensal dedicada aos pré-vestibulando. O material é bem feito e a proposta é bem interessante, pois foca justamente na questão temática e múltiplas abordagens. E qual foi o tema da 3a. edição? Hein, hein?
Exatamente esta que você está pensando:

A edição contém:
1 editorial
3 reportagens
3 artigos
2 entrevistas
1 vídeo
3 infográficos
10 textos literários (incluindo letra de música)

Vai dizer que não tem informação para levar ao ENEM?

Apostas para o ENEM


Para docentes dos principais cursinhos pré-vestibulares, a prova deve ser extensa e os estudantes terão de relacionar temas da atualidade com os conteúdos básicos do ensino médio; a novidade deste ano é a aplicação de questões de inglês ou espanhol.


Bom, eu não faço mapa astral, não entendo de búzios e nem tenho bola de cristal. Mas se o pessoal gosta de uma futurulogia eu colaboro...
Considerando que as apostas meio previsíveis apontam para o tema "meio ambiente" é bom lembrar que a proposta do ENEM é articular conteúdos diversos e avaliar a capacidade do aluno de interpretar, correlacionar e desenvolver análises (dentro dos limites de uma prova de multipla escolha).
Dito isso, o que poderíamos imaginar de tópicos do currículo de história que podem dialogar com o tema meio ambiente?
O mais óbvio é Revolução Industrial em suas diferentes fases e matrizes energéticas. Mas impacto ambiental o homem já causa desde o início dos tempo, então é possível imaginar questões abordando a Colonização da América e o Imperialismo Europeu na África e na Ásia. Radicalizando, culturas mais antigas possuíam um relação mais íntima com o ambiente, basta lembrarmos das chamadas "civilizações fluviais" como os antigos Egípcios e os Mesopotâmicos. No que diz respeito a tópicos mais atuais, temos o desenvolvimento industrial do século XX, o crescimento populacional (impacto em áreas urbanas), a produção ou comercialização insuficiente de alimentos, e as catástrofes ambientais desde a Usina Nuclear de Chernobyl aos últimos deslizamentos de terra em Santa Catarina e no Rio de Janeiro.
Fica o palpite!


Atualização:
Eu não tinha observado que em outra matéria do mesmo dia o Estado de S. Paulo havia desenvolvido mais um pouco o exercício de futurologia (AQUI). Um trechinho para quem estiver com preguiça pouco tempo para ler a reportagem toda:
"A evolução do desmatamento no Brasil, o problema das queimadas, o aquecimento global, o desenvolvimento de novas matrizes energéticas são assuntos com os quais os inscritos devem estar familiarizados. André Guibur, professor de geopolítica do Cursinho da Poli, ressalta ainda a importância de se conhecer a polêmica em torno da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, Pará. 'A obra é um carro-chefe dos programas do governo, necessária para o País, mas tem um alto impacto ambiental e social', avalia Guibur. 'A questão ainda concilia dois temas importantes para o Enem, que são energia e meio ambiente.'"

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Para ler e refletir

Da Folha de S. Paulo do dia 4 de outubro:

Escolas e colegas são hostis a alunos e alunas homossexuais, aponta pesquisa
As escolas brasileiras são hostis aos homossexuais e o tema da sexualidade continua sendo pouco discutido nas salas de aula. Essas são as principais constatações da pesquisa Homofobia nas Escolas, realizada em 11 capitais brasileiras pela organização não governamental Reprolatina, com apoio do Ministério da Educação.
(Continua AQUI)

Não sei vocês, mas não fiquei surpreso, nem um pouco surpreso. Iaí, alguém encara a reflexão?
Apesar de não ter sido dito na matéria do jornal, arrisco dizer que a postura geral é "se eu não falo sobre algo, logo o 'problema' não existe" e isso serve para qualquer assunto...

Atividade avaliativa da 3a. série

A atividade abaixo foi apresentada às 3a. séries como uma avaliação preliminar, uma forma de introduzir o assunto e verificar o que já sabemos a respeito. Afinal, nesta altura dos estudos poucos assuntos são realmente novidade, ao menos alguma coisa já foi dita ou ouvida.

“A peculiaridade da Guerra Fria era a de que, em termos objetivos, não existia perigo eminente de guerra mundial. Mais que isso: apesar da retórica apocalíptica de ambos os lados, mas sobretudo do lado americano, os governos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de forças no fim da Segunda Guerra Mundial, que equivalia a um equilíbrio de poder desigual mas não contestado em sua essência. A URSS controlava uma parte do globo ou sobre ela exercia predominante influência (...) e não tentava ampliá-la com uso de força militar. Os EUA exerciam controle e predominância sobre o resto do mundo capitalista, além do hemisfério norte e oceanos, assumindo o que restava da velha hegemonia imperial das antigas potências coloniais. Em troca, não intervinha na zona aceita de hegemonia soviética.”
(Eric Hobsbawm, A Era dos Extremos. P. 224)
 
De acordo com o texto, o que foi a Guerra Fria? Comente.

Simples, não?