segunda-feira, 18 de outubro de 2010

História e Saúde

No sábado, dia 16, saiu na Folha de S. Paulo uma matéria a respeito de doenças e epidemias no Brasil Colonial. Na verdade se tratava da divulgação do livro Doenças e Curas de uma médica especializada em história da medicina chamada Cristina Gurgel. A temática não é exatamente nova, mas é sempre interessante ter um outro olhar sobre questões já mais ou menos conhecidas. Todos sabem, por exemplo, que epidemias devastaram as populações nativas da América e que os europeus não eram exatamente um primor em higiene. No entanto, analisar estas questões pelo olhar da medicina é, sem dúvida, enriquecedor. Não li o livro, mas fiquei curioso.

Hábitos insalubres tornaram Brasil Colônia grande foco de epidemias, mostra livro
Não raro, no Rio de Janeiro, em Salvador ou em qualquer outro núcleo urbano brasileiro colonial, um pedestre era "abatido" por excrementos humanos voadores enquanto seguia pela rua.
Não havia esgoto, e o hábito era jogar o resíduo pela janela mesmo. As ruas, claro, não ficavam exatamente limpas, e se tornavam bastante insalubres. Não tendo o país nenhuma faculdade de medicina, doenças contagiosas chegavam e ficavam sem enfrentar grande resistência.
Mesmo em 1799, já muito perto do fim da colônia e da chegada da família real portuguesa em fuga para o Brasil, o país, com cerca de 3 milhões de habitantes, não tinha mais de 12 médicos formados --todos importados.
Em Portugal (como no resto da Europa) também existia o hábito pouco higiênico de defenestrar fezes humanas, mas por lá, pelo menos, a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra já formava gente desde 1290 --outros países europeus também já tinham escolas médicas.

No caso brasileiro, a única solução era improvisar.
"No Brasil Colônia, então, formou-se uma pequena multidão de curandeiros, benzedeiras e rezadores que tentavam suprir a absoluta carência de profissionais habilitados", diz Cristina Gurgel, médica da PUC de Campinas que é especialista em história da saúde.
Ela está lançando o livro "Doenças e curas: o Brasil nos primeiros séculos", pela editora Contexto. Nele, ela lista doenças que se propagavam com facilidade na época, como varíola, hanseníase, malária e sarampo, além de constantes disenterias.
Por isso, a expectativa de vida dificilmente passava dos 30 anos. Crianças também eram vítimas fáceis: no século 17, por exemplo, apenas uma em cada três crianças nascidas no Nordeste conseguia sobreviver.
Até existiam alguns hospitais, como as Santas Casas, mas eles eram mantidos muito mais pelos religiosos do que por médicos.
(Continua AQUI)
(Leia também: Com higiene precária, navios não eram para narizes delicados)

A reportagem acima, de Ricardo Mioto, começa com uma cena bem curiosa: o risco de as pessoas serem atingidas por escrementos humanos. Antes da existência de esgoto encanado tudo ia para o penico e do penico ia para... qualquer lugar fora de casa. Poderia ser a rua, sim. E este hábito não terminou com a Independência. Durante o Brasil Império ainda poderia acontecer, mas surgia também outra figura, os "tigres". Eram escravos (sempre eles!) encarregados de levar os escrementos da casa até o lugar "apropriado", em geral rios ou praias. Como as fezes respingavam sobre a pele do escrava e o deixavam rajado, ganhava o apelido de tigre.
 
Leia mais:
Cuidado com o tigre!
Bichos mortos nas ruas, dejetos atirados ao mar, doenças se propagando: o insalubre cotidiano da capital pernambucana nos tempos do Império

O artigo da Revista de História da Biblioteca Nacional trata principalmente do Recife, mas de modo geral se aplica também ao Rio de Janeiro, Salvador e demais capitais do Brasil Império.

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