Nesta semana o assunto do momento foi (ainda é) a ação policial contra o crime organizado no Rio de Janeiro. Os programas de televisão - de jornalismo ao mais puro mundo cão - têm dado o máximo de espaço possível à questão.
Aparentemente os tempos são outros. Depois de 2 Tropa de Elite a imprensa tem elogiado a ação da polícia e comemorado o avanço da repressão policial com ajuda das Forças Armadas. Não sou crítico da ação, creio, inclusive, que os ataques dos criminosos foi resultado das medidas dos governos fluminense e carioca com suas UPPs. O desespero fez o tráfico tomar medidas extremas e, neste caso, me parece minimamente correta a postura do poder público.
Mas acabei de ler um comentário do jornalista Kennedy Alencar, na Folha. Gosto do Alencar, em geral cauteloso em suas colocações, avesso a extremismos ingênuos. Desta vez ele deu voz a alguns dos meus pensamentos.
Capitães Nascimento
"Tropa de Elite" é um filme interessante. Coloca o dedo na ferida em alguns pontos, como o da corrupção política e policial. Escorrega ao idealizar o policial honesto, mas torturador. Mas o mais importante é lembrar que se trata apenas de um filme - pura diversão para alguns, crítica social para outros.
A vida real é mais complicada. A crise do Rio, então, muito mais. A histórica ação na Vila Cruzeiro, com o poder público reconquistando um território do narcortráfico, não é "Tropa de Elite". Parte da imprensa está batizando os policiais da operação de quinta-feira (25/11) de "Capitães Nascimento". Corremos perigo indo por aí. O Nascimento da ficção não é um bom modelo. Pelo contrário.
Os policiais militares que estão colocando a vida em risco cotidianamente merecem respeito, apoio, melhores salários etc. No entanto, a sociedade não pode dar carta branca para o uso indiscriminado da violência _a população mais pobre que vive nas áreas nas quais os criminosos se refugiam sabe o custo disso. Mesmo em situações extremas, como a que vive o Rio hoje, policial não pode agir como bandido. O Nascimento da ficção atuou muitas vezes assim.
Em "Tropa 2", "o sistema" é maior culpado. Na Vila Cruzeiro, "o sistema" deu uma resposta. Mostrou que o poder público está vivo no Rio de Janeiro.
Segurança Pública é assunto complicado demais para jornalista ficar dando opinião como especialista. O risco de falar bobagem se torna enorme. Não é o caso.
Por isso, este texto reflete impressões. O Bope é importante para o Rio de Janeiro, mas muito menos pelo lado "Capitão Nascimento" e muito mais pela faceta José Mariano Beltrame, o secretário da Segurança Pública do Estado.
Há questionamentos sobre a política de Beltrame, bancada a ferro e fogo pelo governador Sérgio Cabral. Mas é justo reconhecer que, se existe uma pessoa para a mídia tratar como um Eliot Ness dos nossos tempos, essa pessoa é Beltrame.
Moral da história: É bom refletirmos com cuidado... sempre!
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