quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Questão delicada...

 "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão."

A personagem em questão é a Tia, negra, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, obra de Monteiro Lobato. A frase soou racista para alguém?
Não sei se vocês têm acompanhado, mas está rolando uma bela polêmica sobre um parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), redigido por uma professora da UFMG. Segundo a parecerista o livro As caçadas de Pedrinho, apresenta expressões racistas e por isso o Ministério da Educação não deveria distribuir o livro gratuitamente às escolas públicas ou, se optasse pela distribuição, que coloque uma advertência.
Muita gente achou um absurdo, afinal se trata de um livro de Monteiro Lobato, um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos e pai da literatura infantil nacional. A OAB (sim, além de reunir advogados a Ordem tem opinião sobre tudo!) protestou contra o parecer e a Academia Brasileira de Letras também se manifestou. Para os acadêmicos,
"cabe aos professores orientar os alunos no desenvolvimento de uma leitura crítica. Um bom leitor sabe que Tia Nastácia encarna a divindade criadora dentro do Sítio do Pica-pau Amarelo. Se há quem se refira a ela como ex-escrava e negra, é porque essa era a cor dela e essa era a realidade dos afro-descendentes no Brasil dessa época. Não é um insulto, é a triste constatação de uma vergonhosa realidade histórica".
Eu detesto ficar em cima do muro, mas quase concordo com todos. Monteiro Lobato é realmente um clássico nacional. Cada vez menos lido, mas ainda assim importantíssimo. Proibir sua leitura, ou seja, censurá-lo, seria um crime. Mas também não é isso que se está propondo. Toda biblioteca escolar tem O sítio do Pica-Pau Amarelo e isso não vai mudar.
Por outro lado, não há como desconsiderar que há certo preconceito por trás da frase que coloquei de início. Assim como é sabido que Monteiro Lobato também não era uma flor de pessoa. O livro é de 1933 e o racismo não era algo exatamente condenado na época, ainda mais o sutil (e perigoso) racismo brasileiro.
Qual a solução? Eu ainda acho que a melhor saída é a reflexão. Neste caso, uma nota de advertência no livro não seria um problema.
E você, o que acha?


p.s. Claro que se você acha que piadas maldosas sobre negros não faz de você um racista esqueça a polêmica. Não vai fazer sentido para você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Segundo o dicionário, liberdade de pensamento é o "direito que cada um tem de expor suas opiniões, crenças e doutrinas", e este direito é garantido aqui. No entanto, qualquer comentário sexista, racista ou de algum modo ofensivo será apagado.