terça-feira, 28 de agosto de 2012

Política e autonomia na escola

Podemos pensar a política como a forma de resolver conflitos por meio da discussão e da negociação. Esta definição é bem ampla, propositadamente ampla, mas exige três cuidados. Primeiro, não podemos ver "conflito" como briga ou hostilidade, e sim como divergência(s) natural(ais) dentro de grupos humanos. Segundo, o mesmo cuidado é exigido do termo "discussão", afinal não se trata de bate-boca ou de uma disputa agressiva. Por fim, "negociação" não é manipulação, venda de apoio ou qualquer outra forma de deturpação das opiniões de cada um. Apenas deve-se aceitar que é virtualmente impossível que algo agrade a absolutamente todos sempre.
Mas qual o motivo de tudo isso?
Simples. Estamos habituados a ver política em alguns ambiente - e épocas - muito específicos. Política acontece na Câmara dos Vereadores, no Congresso, no Horário Político em época de eleição. Política é aquilo que está em um determinado caderno dos jornais. Política é aquele assunto chato que professores de História, Geografia, Filosofia e Sociologia adoram discutir. No final das contas, a política sempre está onde a menor parte da população se encontra.
O "x" da questão é que a política está em todo lugar. A partir do momento em que "optamos" por viver em sociedade (ou mesmo antes, basta viver em comunidade) estamos "condenados" a resolver conflitos por meio da discussão e da negociação. Sim, vivemos a política todos os dias e em todos os lugares!
Há uma política familiar, uma política do prédio (na reunião de Condomínio), uma política na hora de escolher os times para jogar bola e, sim, há uma política no ambiente escolar. No entanto, nós nem sempre sabemos ou queremos lidar com tanta participação política e acabamos sucumbindo a um processo mais simples: a decisão autoritária onde poucos decidem e os demais obedecem. É cômodo para quem manda e, muitas vezes, também para quem obedece.
Hoje li no jornal um caso muito interessante que aconteceu em Santa Catarina. Uma aluna de 13 anos decidiu expor os problemas da escola (pública) em que ela estuda por meio do Facebook. 

Aluna vira alvo ao expor escola em rede social

Ela afirma que havia tentado por outros canais, mas que nunca nada era feito. Segundo a reportagem, sempre de modo polido, a estudante postava fotos e comentários denunciando vidros quebrados, fios desencapados, falta de professores, etc. A reação da escola acabou sendo o contrário do que se espera na democracia: tentou-se coibir a aluna parar com a página e passou-se a hostilizar o comportamento da garota.
Mas que não se pense que isto é um problema brasileiro. Há alguns meses uma aluna inglesa passou a postar fotografias e comentárias sobre a merenda escolar em um blog dando notas para a qualidade e para a "saúde" das refeições. A direção do colégio foi no mesmo sentido do caso de Florianópolis.

Aluna inglesa fotografa merenda, dá "notas" para a comida e recebe apoio de Jamie Oliver

A vida política e, em particular, a vida democrática é muito difícil. O mais natural é seguir o velho ditado que diz "manda quem pode e obedece quem tem juízo". Porém, o natural não necessariamente é o melhor para a coletividade.
Ao mesmo tempo, é fundamental destacar que em ambos os casos não se trata de calúnia, difamação ou detratação das escolas e dos professores. Como eu disse no início, não é falar mal, brigar ou xingar o caminho. Mas a política de forma serena e naturalizada. Isto é, tornada natural.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Segundo o dicionário, liberdade de pensamento é o "direito que cada um tem de expor suas opiniões, crenças e doutrinas", e este direito é garantido aqui. No entanto, qualquer comentário sexista, racista ou de algum modo ofensivo será apagado.