quinta-feira, 17 de maio de 2012

A verdade

Nesta quarta-feira que passou, dia 16 de maio, ocorreu a cerimônia de posse da Comissão da Verdade nomeada pela presidente Dilma Rousseff. Não foi à toa o tratamento especial que se deu a este evento. De fato, a nomeação de uma comissão para esclarecer e trazer à tona crimes contra os direitos humanos cometidos entre 1946 (Governo Dutra) e 1988 (publicação da Constituição atual) é evento de enorme importância social e política. O que não significa dizer que é isenta de polêmica. Militares da reserva temem revanchismo por conta da Ditadura Militar, principal foco dos trabalhos (ainda que não seja declarado explicitamente).
Acompanhem esta polêmica, pois é de suma importância. No entanto, gostaria de destacar um trecho muito bonito do discurso proferido pela presidente Dilma. Deixemos de lado, por um instante, os posicionamentos políticos e os rigores teóricos (especialmente caros aos historiadores, filósofos e cia.) para uma reflexão conjunta:
Eu queria iniciar citando o deputado Ulysses Guimarães que, se vivesse ainda, certamente, ocuparia um lugar de honra nessa solenidade.
O senhor diretas, como aprendemos a reverenciá-lo, disse uma vez: "a verdade não desaparece quando é eliminada a opinião dos que divergem. A verdade não mereceria este nome se morresse quando censurada." A verdade, de fato, não morre por ter sido escondida. Nas sombras somos todos privados da verdade, mas não é justo que continuemos apartados dela à luz do dia.
Embora saibamos que regimes de exceção sobrevivem pela interdição da verdade, temos o direito de esperar que, sob a democracia, a verdade, a memória e a história venham à superfície e se tornem conhecidas, sobretudo, para as novas e as futuras gerações.
A palavra verdade, na tradição grega ocidental, é exatamente o contrário da palavra esquecimento. É algo tão surpreendentemente forte que não abriga nem o ressentimento, nem o ódio, nem tampouco o perdão. Ela é só e, sobretudo, o contrário do esquecimento. É memória e é história. É a capacidade humana de contar o que aconteceu.Ao instalar a Comissão da Verdade não nos move o revanchismo, o ódio ou o desejo de reescrever a história de uma forma diferente do que aconteceu, mas nos move a necessidade imperiosa de conhecê-la em sua plenitude, sem ocultamentos, sem camuflagens, sem vetos e sem proibições. [grifos meus]
Ao final, mais um trecho muito significativo:
A ignorância sobre a história não pacifica, pelo contrário, mantêm latentes mágoas e rancores. A desinformação não ajuda apaziguar, apenas facilita o trânsito da intolerância. A sombra e a mentira não são capazes de promover a concórdia. O Brasil merece a verdade. As novas gerações merecem a verdade, e, sobretudo, merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia.
É como se disséssemos que, se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulo, se existem túmulos sem corpos, nunca, nunca mesmo, pode existir uma história sem voz. E quem dá voz à história são os homens e as mulheres livres que não têm medo de escrevê-la. Atribui-se a Galileu Galilei uma frase que diz respeito a este momento que vivemos: "a verdade é filha do tempo, não dá autoridade."
Eu acrescentaria que a força pode esconder a verdade, a tirania pode impedi-la de circular livremente, o medo pode adiá-la, mas o tempo acaba por trazer a luz. Hoje, esse tempo chegou. [grifos meus]



Boa reflexão para todos nós!






Para quem quiser a íntegra do discurso: AQUI

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