quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A década de 1930 sob outro olhar

Em ano de Copa, querendo ou não, o futebol é pauta recorrente. No caso do Brasil, então, até sem campeonato mundial o "esporte bretão" é assunto constante.
Nas aulas deste bimestre começamos a ver com a 3ª série a década de 1930 no Brasil, ou seja, o fim da chamada República Velha e o início da Era Vargas. No entanto, não devemos perder de vista que o cenário internacional não pode ser separado do contexto nacional e, ao mesmo tempo, este panorama envolve várias faces da política e da sociedade. É aí que se encaixa o futebol.
Marco Antonio Villa, historiador e professor da UFSCar, escreveu um interessante artigo para a Folha de S. Paulo em 18 de abril deste ano. A proposta era abordar a primeira Copa do Mundo no contexto mundial da época, ou seja, "um torneio abalado pela Depressão", como o autor chamou seu texto.

A história das Copas começa assombrada por uma grande crise econômica. O crash da Bolsa de Valores de Nova York, em outubro de 1929, avançou rapidamente para além das fronteiras dos EUA e comprometeu o primeiro Mundial de futebol profissional.
Os efeitos da crise dificultaram a participação dos países europeus, insatisfeitos com a escolha de uma sede do outro lado do Atlântico. Bicampeão olímpico, o Uruguai recebeu da Fifa a incumbência de organizar a Copa de 1930. Resultado: um torneio sem eliminatórias, com apenas 13 seleções, das quais só quatro eram europeias (Romênia, França, Iugoslávia e Bélgica).
E decidido por dois sul-americanos, o próprio Uruguai e a Argentina. A primeira final de Copa do Mundo atraiu mais de 90 mil espectadores, o maior público para um jogo de futebol na América do Sul até então.
Seleção Brasileira de 1930
O Brasil não passou da primeira fase. Uma briga entre cariocas e paulistas -rivalidade que marcou a seleção brasileira durante meio século- impediu a convocação de atletas que atuavam em São Paulo, com exceção do atacante Araken. (...)
O impacto da Grande Depressão se estendeu pelos anos 30. Na América Latina, países como Argentina e Brasil vivenciaram profundas mudanças políticas, um reflexo da crise.
A URSS, então único país socialista, foi menos atingida porque tinha pequena participação no comércio internacional.
A África também foi afetada pela crise. A produção de gêneros agrícolas e a exploração de minerais, bases econômicas das colônias, tiveram seus preços sensivelmente rebaixados.
Desde 1919, após o tratado de Versalhes, o continente, excetuando a Libéria, o Egito (independente em 1922) e a Etiópia, era domínio quase exclusivo de Inglaterra e França.
A Alemanha perdeu todos os seus territórios após a derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em uma nova partilha decidida pela então recém-criada Sociedade das Nações, antecessora da ONU (Organização das Nações Unidas).
Para a nova entidade, os povos africanos não eram "capazes de se dirigir por si mesmos nas condições particularmente difíceis do mundo moderno".
Portanto França e Inglaterra tinham recebido a tutela provisória das colônias até que elas pudessem caminhar sozinhas.
Tal decisão da Sociedade das Nações firmou o princípio de que a relação entre colonizador e colonizado não era um fim em si mesmo, mas um caminho que preparava os povos africanos para sua independência.
Reparem que o autor relaciona o início da década de 1930 com os resultados da Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, o Neo-Colonialismo europeu que continuava forte e atuante na África, e a Crise de 1929. No caso da América Latina, as mudanças políticas ficariam ao cargo de governos autoritários e de contornos mais ou menos fascistas - no caso brasileiro e argentino -, tendência que também é observável na Europa: Alemanha nazista, Itálica fascista, Portugal salazarista, Espanha franquista.
Ao mesmo tempo, Villa tem em mente a Segunda Guerra Mundial e, por isso, enumera os principais países que tomarão parte no conflito. Portanto, temos aí uma trajetória, uma teia complexa ligando elementos que levaram à Primeira Guerra, as consequências políticas, sociais e econômicas deste conflito, e a Segunda Guerra. Não por acaso o historiador Eric Hobsbawm considera que só houve "uma Grande Guerra" entre 1914 e 1945, com um armistício de 1918 a 1939.
 
Não percam de vista o todo, mesmo quando estamos analisando apenas uma parte por vez!

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