quinta-feira, 19 de abril de 2012

Os horrores da guerra, de qualquer guerra

"Stormtroops advancing under a gas attack", de Otto Dix
Quando preparo uma avaliação vou juntando todo tipo de material que tenho para depois selecionar o que julgo mais apropriado. E com frequência sobram coisas bem interessantes.
Desta vez, ao formular a prova de recuperação da 3a. série restou em minhas mãos um trecho do livro Os três camaradas, de Erich Maria Remarque (o mesmo autor de Nada de novo no front). A passagem descreve uma lembrança do personagem a respeito da Primeira Guerra Mundial, fazendo referência às trincheiras e à guerra química.
“1917. Flandres. Middendorf e eu tínhamos comprado uma garrafa de vinho tinto. Com ele pretendíamos fazer uma pequena comemoração. Isso, entretanto, não nos foi possível. De madrugada os ingleses desencadearam um pesado fogo sobre nós. Ao meio dia, Köster foi ferido. De tarde caíram Meyer e Deters. E ao anoitecer, quando pensávamos poder ter um pouco de sossego e abrir a garrafa, veio uma onda de gás e se infiltrou pelos abrigos subterrâneos.
É verdade que nos tínhamos munido de máscaras no devido tempo, mas a de Middendorf estava estragada. Quando ele notou o defeito, já era tarde. Até que a arrancasse do rosto e achasse outra perfeita para substituí-la, já havia inalado excessiva quantidade de gás, e vomitava sangue. Na manhã seguinte, ele estava morto, com o rosto manchado de verde e negro. O pescoço estava todo arranhado pelas unhas na desesperada ânsia de abri-lo para conseguir um pouco de ar para respirar.”

(Erich Maria Remarque. Os três camaradas. Rio de Janeiro: Record, [s.d.]. P. 8)
Este excerto é bem impactante como um todo, mas a última frase eleva a tragédia humana a outro patamar. Não por acaso Remarque é reconhecido como um autor pacifista e crítico da visão de que a guerra faz heróis. Por sua vez, fica fácil imaginar porque Hitler e sua turminha mandaram queimar os livros do escritor e ex-soldado.


A propósito, sobre a guerra química e o uso de gases tóxicos, postei anteriormente uma sugestão de leitura AQUI.

Se você gostou da imagem que ilustra o post, veja outros trabalhos de Otto Dix, também um artista engajado em denunciar os horrores da guerra e considerado um expoente da "arte degenerada", na opinião dos nazistas.
Clique AQUI.

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