quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Gosto não se discute

Todo mundo tem gostos pessoais, preferências que são parte da personalidade. Nós, professores, não fugimos a esta regra. É fato que um prefere História do Brasil Colonial, ou encontra mais prazer discutindo Mundo Contemporâneo. Tanto é que algumas aulas acabam sendo memoráveis e outras são quase cumprimento de tabela.
Com a Fuvest acontece a mesma coisa. Os professores que formulam a prova também gostam de alguns temas ou estilo de prova. Quase sempre, por exemplo, Napoleão aparece no vestibular. Sua importância para a história ocidental é inegável e acabou levando a uma coincidência curiosa.
Num post de 7 de junho - Questão e reflexão - discuti uma pergunta da prova da segunda fase da Fuvest de 2005:
Vejam a questão da Fuvest deste ano:

A cena retratada no quadro acima simboliza a

a) estupefação diante da destruição e da mortalidade causadas por um tipo de guerra que começava a ser feita em escala até então inédita.
b) Razão, propalada por filósofos europeus do século XVIII, e seu triunfo universal sobre o autoritarismo do Antigo Regime.
c) perseverança da fé católica em momentos de adversidade, como os trazidos pelo advento das revoluções burguesas.
d) força do Estado nacional nascente, a impor sua disciplina civilizatória sobre populações rústicas e despolitizadas.
e) defesa da indústria bélica, considerada força motriz do desenvolvimento econômico dos Estados nacionais do século XIX.

Fácil? Nem tanto... Era necessário lembrar que o quadro mostra o fusilamento de civis resistentes ao avanço napoleônico na Espanha. Ou seja, simboliza a "estupefação diante da destruição e da mortalidade causadas por um tipo de guerra [a guerra com ataques a civis] que começava a ser feita em escala até então inédita".
Alternativa A.Para contextualizar a questão utilizei o quadro do pintor espanhol Goya, chamado Los fusilamientos del tres de mayo.

"A mais extravagante ideia que possa germinar no cérebro de um político é acreditar que basta a um povo entrar de mão armada num país estrangeiro para lhe fazer adotar as suas leis e a sua Constituição. Ninguém estima os missionários armados, e o primeiro conselho que a natureza e a prudência dão é repeli-los como inimigos."

(Robespierre, janeiro de 1792.)

a. Por que a ocupação da Espanha pelo exército napoleônico, em 1808, tornou o texto profético?
b. Há no momento atual alguma situação à qual o texto pode ser referido? Por quê?


Veja a questão deste ano:

A cena retratada no quadro acima simboliza a

a) estupefação diante da destruição e da mortalidade causadas por um tipo de guerra que começava a ser feita em escala até então inédita.
b) Razão, propalada por filósofos europeus do século XVIII, e seu triunfo universal sobre o autoritarismo do Antigo Regime.
c) perseverança da fé católica em momentos de adversidade, como os trazidos pelo advento das revoluções burguesas.
d) força do Estado nacional nascente, a impor sua disciplina civilizatória sobre populações rústicas e despolitizadas.
e) defesa da indústria bélica, considerada força motriz do desenvolvimento econômico dos Estados nacionais do século XIX.

Fácil? Nem tanto. Para responder precisava saber o contexto e a "mensagem" do quadro, assim como compreender o significado das alternativas. Ou seja, era necessário lembrar que o avanço napoleônico e o envolvimento de civis representavam um estilo novo de guerra com dimensões inéditas. Na prática, a guerra movida por Napoleão foi a primeira guerra mundial propriamente dita, por ter arrastado inúmeros países de lado a lado.
Resposta: alternativa A

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