segunda-feira, 7 de junho de 2010

Questão e reflexão

Caiu na prova da 2ª série, mas creio que vale a pena compartilhar com todos esta reflexão. Dê uma olhada!

A questão

(Fuvest 2005)
"A mais extravagante ideia que possa germinar no cérebro de um político é acreditar que basta a um povo entrar de mão armada num país estrangeiro para lhe fazer adotar as suas leis e a sua Constituição. Ninguém estima os missionários armados, e o primeiro conselho que a natureza e a prudência dão é repeli-los como inimigos."
(Robespierre, janeiro de 1792.)
a. Por que a ocupação da Espanha pelo exército napoleônico, em 1808, tornou o texto profético?
b. Há no momento atual alguma situação à qual o texto pode ser referido? Por quê?


A discussão
Pelas palavras do historiador inglês Eric Hobsbawm percebe-se a dimensão da chamada Era Nopoleônica. As ideias da Revolução Francesa, principalmente a crítica ao Absolutismo e o questionamento dos privilégios, assim como a consagração da burguesia e a economia liberal foram espalhadas pela Europa como um todo e, indiretamente, atingiu também a América colonial. Mas este processo não foi de forma alguma pacífico e a Península Ibérica é um ótimo exemplo.
"Os soldados franceses que guerrearam da Andaluzia a Moscou, do Báltico à Síria [...] estenderam a universalidade de sua revolução mais eficazmente do que qualquer outra coisa. E as doutrinas e instituições que levaram consigo, mesmo sob o comando de Napoleão, eram doutrinas universais, como os governos sabiam e como também os próprios povos logo viriam a saber."
Eric Hobsbawm. A era das revoluções, 1789-1848.
A invasão napoleônica na Espanha ocorreu quase que ao mesmo tempo que a de Portugual, país este que se recusou a cumprir o Bloqueio Continental. O que os franceses não esperavam era a resistência do povo espanhol que, contrariando a ideia segundo a qual Napoleão traria a liberdade e o fim do Antigo Regime, reagiu violentamente.
Talvez o enfrentamento mais famoso tenha sido o Levante de 2 de maio de 1808, em Madri, diante da ordem de Napoleão de retirar da Espanha para a França o infante D. Francisco de Paula de Bourbon. A violência foi tamanha que o marechal Murat, comandante do exército francês afirmou:
“O povo de Madrid deixou-se arrastar à revolta e ao assassinato… Sangue francês foi derramado. Sangue que demanda vingança”.
A repressão provocou a morte de cerca de 400 vítimas, sendo que 44 rebeldes foram fuzilados na noite de 2 para 3 de maio. Este episódio foi posteriormente (1814) retratado pelo famoso pintor espanhol Goya em seu Los fusilamientos del tres de mayo.

A questão da Fuvest perguntava, ainda, sobre alguma situação contemporânea que mostrasse semelhança com essa invasão trazendo o fim de um tempo de opressão como Napoleão “acreditou” que seria visto pelos espanhóis.
Na época daquele vestibular o mais típico caso e que, infelizmente, continua atual é a guerra dos EUA (com apoio do Reino Unido e "omissão" da ONU) contra o Iraque. Qual era a justificativa norte-americana? Além de afirmarem que o Iraque possuía armas de distruição em massa (nucleares, químicas e biológicas), colocando o governo dos EUA como guardião da segurança do planeta, era dito que levariam a democracia, a liberdade e o respeito aos direitos humanos, valores que Sadam Houssein sempre desrespeitou.
Veja uma frase de um homem de Estado, ligado diretamente ao governo estadunidense:
"Eu acho que as coisas ficaram tão ruins no Iraque, do ponto de vista do povo iraquiano, que nós [EUA] seremos vistos como salvadores"
(Dick Cheney, vice-presidente americano, à rede NBC, em 16 de março de 2003)
Esta pérola foi proferida há 7 anos e desconfio que os iraquianos não concordam com o ex-vice-presidente. Talvez porque eles também não gostem de "missionários armados".


Antes que eu me esqueça, um comentário. A frase de Dick Cheney é de 2003, a questão é de 2005 e nós estamos em 2010.
"A Guerra do Golfo (1990-91) durou cinco dias em terra. Não podemos afirmar que o uso da força no Iraque durará cinco dias, cinco semanas ou cinco meses. Mas certamente irá durar mais do que isso."
(Donald Rumsfeld, então secretário de Defesa americano, em 14 de novembro de 2002)
Pelo raciocínio de Rumsfeld ele também não esperava que a guerra durasse, até o momento, quase 8 anos.

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